terça-feira, 3 de junho de 2008

30 ANOS DE ESTUDO SISTEMATIZADO DA DOUTRINA ESPÍRITA


Resgatar a importância e o pioneirismo dos espíritas gaúchos, na efetivação de um programa de estudo sistematizado do Espiritismo, verdadeira âncora do movimento espírita contemporâneo


Foi em 22 de julho de 1978, quando Maurice Herbert Jones presidia a Federação Espírita do Rio Grande do Sul e Salomão Benchaya era seu Diretor Doutrinário, que se lançou naquele Estado a “Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - ESDE”. É bem verdade que a (antiga) Sociedade Espírita Luz e Caridade - SELC (hoje Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - CCEPA) já mantinha, na década de 70, grupos de estudo sistematizado do Espiritismo, mas a prática não era comum no movimento espírita. As práticas pedagógicas nas instituições espíritas, àquela época, em relação aos adultos se baseavam na leitura seqüencial dos capítulos das obras básicas, seguidas de interpretação e alguma discussão entre os participantes. O ESDE, em seu nascedouro, assim, buscou inspiração no COEM (Centro de Orientação e Estudo da Mediunidade), uma exitosa iniciativa do Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba (PR), e a SELC foi o verdadeiro laboratório onde se concebeu e se aprimorou a Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. Vale dizer que o movimento espírita, com a proposta da federativa gaúcha, iniciava uma nova e importante fase: a da conscientização da necessidade do estudo.

Jones, deste modo, buscou apoio na Federação Espírita Brasileira (FEB), para encampar o projeto e difundi-lo, oficialmente, entre as instituições do Conselho Federativo Nacional (CFN). O livro Da religião espírita ao laicismo, de Benchaya registra, a propósito, as enormes dificuldades enfrentadas pelo dirigente para a decisão de implantar semelhante Campanha em âmbito nacional. Havia, conforme o autor, uma “surda resistência” que obrigou o representante gaúcho a forçar a votação de sua proposta que vinha sendo sucessivamente adiada: “Argumentou Jones, na oportunidade, que não podia entender aquela surda resistência a uma Campanha de Estudo do Espiritismo em um movimento que já desenvolvia uma intensa Campanha de Evangelização Infanto-juvenil. Finalizou dizendo aguardar a votação, que era aberta, pois apreciaria conhecer e registrar para a história, os dirigentes de Federações Estaduais que se atrevessem a reprovar uma campanha objetivando estimular o estudo do Espiritismo”.

O esforço dos pioneiros (Salomão, pela autoria e Jones pela defesa) foi recompensado: na tarde de 6 de julho de 1980, um domingo, a proposta gaúcha terminou aprovada pela unanimidade dos representantes presentes em Brasília. A FEB, entretanto, levaria mais de três anos para lançar oficialmente a campanha, já com roteiros e programas de estudo reelaborados por uma comissão específica.

A partir de 1990, no CCEPA, os neófitos são encaminhados aos Cursos Básicos de Espiritismo voltados para a comunidade, com a participação de expositores da Casa e convidados, sendo os temas desenvolvidos sob a forma de palestras e, desde 2001, há uma programação especialmente voltada para os não-espíritas que desejem receber informações básicas acerca do contexto histórico-cultural da época de surgimento da Doutrina, bem como acerca de seus princípios básicos. No âmbito do estudo sistematizado, há o Ciclo Básico de Estudos Espíritas (CIBEE), que tem a duração de um ano. Os grupos compostos por espíritas experientes desenvolvem seus próprios programas, calcados em pesquisa, debate e produção cultural, utilizando-se os princípios do “estudo e problematização”. Em complemento, as palestras públicas foram transformadas no “grupo de conversação”, que privilegia o formato interativo, não havendo dirigente nem expositor no sentido tradicional, mas, um “provocador” previamente designado que, após breve exposição, coloca e coordena a discussão de um assunto para ser debatido à luz do pensamento espírita.

Marcelo Henrique Pereira
Mestre em Ciência Jurídica.Secretário para a Promoção da Juventude e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA)Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina (ADE-SC)

Nenhum comentário: