quinta-feira, 24 de abril de 2014

FÉ E RAZÃO

A natureza sintética do Espiritismo, tão bem destacada por Leon Denis, torna-se evidente no conceito de “fé raciocinada” que Kardec incorporou ao pensamento espírita.
A visão dinâmica e livre pensadora oferecida pelo Espiritismo nos convida enfaticamente a superar dialeticamente o conflito entre a postura de submissão alienante do fideismo e a arrogância racionalista, com aquilo que José Herculano Pires chamou de fideismo-crítico, ou seja, a nossa fé raciocinada.

Analisando o aparente paradoxo desta expressão na obra A Revolução da Esperança, o psicanalista Erich Fromm diz que a fé é irracional quando é submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira independentemente de sê-lo ou não. O elemento essencial desta fé é o seu caráter passivo. Já a fé racional refere-se ao conhecimento do real que ainda não nasceu; baseia-se na capacidade de conhecimento e compreensão que penetra a superfície e vê o âmago. A fé racional, continua ele, não é previsão do futuro; é a visão do presente num estado de gravidez; é a certeza sobre a realidade da possibilidade.
Sintetizando o modo pelo qual o Espiritismo aborda o problema da fé, poderíamos dizer, parafraseando Herbert Spencer, que “existe uma alma de razão nas coisas da fé e uma alma de fé nas coisas da razão”.
                                                              Maurice H. Jones                                                         
                                                                     Trecho de artigo divulgado em 2002