terça-feira, 26 de agosto de 2008

NÓS E AS RELIGIÕES

O adesivo no vidro traseiro do carro que seguia na frente do meu exibia uma frase em inglês que me chamou a atenção. Traduzida, ela dizia o seguinte: "Não sou religioso, apenas amo Jesus". Se fosse possível, juro que desceria do carro, daria um abraço no motorista e lhe diria: "Eu também".
A gente vive em um mundo onde as religiões terminaram por se apropriar dessa figura extraordinária e admirável que foi Jesus de Nazaré. E, no entanto, ele não fundou nenhuma religião. Não pregava em templos. Mostrou-se totalmente avesso a qualquer forma de cerimônias, rituais e hierarquias religiosas. Não se declarou sacerdote e nem se tem notícia de que tenha batizado alguém, celebrado cultos, encomendado mortos ou realizado casamentos.
Assim, fico inteiramente com a filosofia daquele motorista. Ninguém precisa ser religioso para admirar Jesus. Nem para segui-lo. Também não é necessário ser religioso para ser virtuoso. A virtude é uma imposição da própria vida. Daquilo que podemos chamar de lei natural.
Devemos reconhecer que a religião desempenhou papel importante no processo de nossa formação moral. Mas nem sempre ela própria esteve com a melhor moral. Ainda hoje, muitas vezes, as posições religiosas são retrógradas, atrasadas, enquanto que as propostas laicas são progressistas, inteiramente afinadas com as leis naturais. As religiões envelhecem e perdem seus seguidores enquanto insistem em alguns dogmas contrários à razão e à lei natural.
Por isso tudo, tinha inteira razão Allan Kardec ao escrever: "Fé inabalável só é aquela que pode encarar a razão face a face em qualquer época da humanidade."

Milton Medran Moreira
Crônica publicada no jornal Diário Gaucho de 26/08/2008