quinta-feira, 14 de maio de 2009

HUMANOS, SOMENTE HUMANOS

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“O homem é a única criatura que se recusa a ser o que ela é”. Albert Camus
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O enorme contingente de criaturas que, em todo o mundo, se dedica com amor a atividades de promoção do ser humano nos convida a fazer uma reflexão sobre nosso papel e, sobretudo, sobre a inspiração e os motivos que nos levam a trabalhar e a sofrer por ideais de natureza filosófica, política ou religiosa buscando, consciente ou inconscientemente, aperfeiçoar o que nos parece imperfeito, participando assim da construção de um mundo que possa ser mais amado.
Por que fazemos o que fazemos? Por que ao invés de somente viver e sobreviver, aceitando obedientemente o cenário e o texto que nos é oferecido, resolvemos desobedecer e sonhar e plantar jardins, construir tambores, flautas e harpas, escrever poemas, construir casas, teatros, universidades, cidades?
Isto faz de nós, realmente, criaturas singulares no concerto da natureza que conhecemos. Diferentemente dos animais, perfeitamente ajustados ao mundo físico, os homens parecem ser, constitucionalmente, desadaptados ao mundo tal como ele lhes é dado.

O psicanalista e escritor Rubem Alves, que nos inspira nesta reflexão, diz que uma das respostas a este tipo de indagação é que o homem, antes de ser racional, é um ser de desejo. Desejo é sintoma de privação, de ausência e pertence aos seres que se sentem insatisfeitos com o que o espaço e o tempo presente lhes oferecem. Eles sabem que o mundo é uma construção e, portanto, perfectível. Sofremos de uma “nostalgia do futuro”, uma espécie de saudade de um tempo que há de vir que começa no momento mágico, naquele ponto de mutação em que, com o despertar da razão, foi firmado o contrato de parceria com a Inteligência Suprema que inaugurou a história humana.

Esta é a glória e, ao mesmo tempo, a maldição da condição humana. Na busca deste mundo mais perfeito que os homens desejam, imaginam e, a pouco e pouco, constroem, empenhamos as mais nobres das nossas qualificações morais e intelectuais, mas como contrapartida, temos que enfrentar a maldição da neurose e o terror da angústia, inexistentes no paraíso da natureza infra-humana. A harmonia original, pré-individualista, é substituída pelo conflito e pela luta, recursos pedagógicos utilizados para desenvolver nossa capacidade de pensar e de amar. A Inteligência Suprema, de certa forma presente no recôndito das estruturas mais sutis da nossa individualidade, não bloqueia e sim estimula, permanentemente, a parceria humana, mesmo quando incipiente e desastrada.
Somos o que somos porque para isto fomos inteligentemente programados. Viver, viver mais, viver melhor é a legenda que sintetiza todas as motivações humanas.
Fazemos o que fazemos porque somos humanos, somente humanos.

Maurice Herbert Jones