Desde que o mundo é
mundo, transformações geológicas e sociais, físicas e culturais, sucedem-se em
processos mais ou menos rápidos. Nós, espíritas, chamamos isso simplesmente de
evolução. Mudanças, em qualquer circunstância, pedem tempo, exigem correção de
rumos e, quando envolvem atitudes humanas, requerem conscientização.
"Natura non facit saltus" - a natureza não dá saltos - já diziam os
romanos.
Dezembro passou.
Despontou janeiro, renovando sonhos que renascem, sempre e sempre, em cada ano
novo. E a vida dos humanos seguirá seu rumo. Sem sobressaltos. Mesmo assim,
neste canto planetário, esta quadra parece assinalar mudanças que seu povo, de
há muito, vem acalantando e preparando. Há uma consciência generalizada a
reclamar novos padrões comportamentais nas relações entre governantes e
governados, entre os que detêm poderes políticos ou econômicos e aqueles que
destes dependem.
O processo judicial
do século, que a gente chamou de "mensalão" é, sem dúvida, um forte
marco visível dessa ânsia de transformações políticas, sociais e econômicas
inspiradas em uma imensa sede de ética, de equidade e justiça.
O povo, em sua
simplicidade, acha que tudo se resolverá com o encarceramento, e por muitos
anos, de alguns usurpadores do poder político e econômico. Vale considerar, no
entanto, que eles apenas repetiram velhas práticas enraizadas em uma cultura
que, hoje, dá sinais muito claros de saturação.
Ocorra o que ocorrer
com eles, entretanto, e mesmo que, eventualmente, burlem os visíveis mecanismos
de justiça, já lhes sobreveio, e lhes continuará sobrevindo, o ama rgo e
natural resultado de seus erros. Episódios como estes têm profunda repercussão
no íntimo tribunal da consciência de seus agentes. Consciência não se burla e,
perante seus precisos indicadores do bem e do mal, do certo e do errado, não
sobra qualquer espaço para a impunidade.
Para seus responsáveis e para a nação, ademais, estes acontecimentos históricos hão de ter efeito altamente pedagógico. Nada têm de apocalípticos. Não são, como alguns chegam a interpretar, indícios do final dos tempos. Claramente, contudo, compõem um quadro a caracterizar o fim de um tempo, prenunciando um novo amanhecer.
Artigo publicado no Jornal ZERO HORA de Porto Alegre em 12 de janeiro de 2013