sábado, 12 de janeiro de 2013

CCEPA NA MÍDIA

UM NOVO AMANHECER

 MILTON R. MEDRAN MOREIRA
Advogado e jornalista, presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre

 Místicos, astrólogos e crentes de velhas teses sobre o fim do mundo previram acontecimentos estranhos para dezembro de 2012. Ocorreriam, segundo apregoavam, com data e hora aprazadas, catástrofes que levariam a radicais mudanças planetárias. Fim dos tempos, para muitos. Início de uma nova era, para outros.

Desde que o mundo é mundo, transformações geológicas e sociais, físicas e culturais, sucedem-se em processos mais ou menos rápidos. Nós, espíritas, chamamos isso simplesmente de evolução. Mudanças, em qualquer circunstância, pedem tempo, exigem correção de rumos e, quando envolvem atitudes humanas, requerem conscientização. "Natura non facit saltus" - a natureza não dá saltos - já diziam os romanos.

Dezembro passou. Despontou janeiro, renovando sonhos que renascem, sempre e sempre, em cada ano novo. E a vida dos humanos seguirá seu rumo. Sem sobressaltos. Mesmo assim, neste canto planetário, esta quadra parece assinalar mudanças que seu povo, de há muito, vem acalantando e preparando. Há uma consciência generalizada a reclamar novos padrões comportamentais nas relações entre governantes e governados, entre os que detêm poderes políticos ou econômicos e aqueles que destes dependem.

O processo judicial do século, que a gente chamou de "mensalão" é, sem dúvida, um forte marco visível dessa ânsia de transformações políticas, sociais e econômicas inspiradas em uma imensa sede de ética, de equidade e justiça.

O povo, em sua simplicidade, acha que tudo se resolverá com o encarceramento, e por muitos anos, de alguns usurpadores do poder político e econômico. Vale considerar, no entanto, que eles apenas repetiram velhas práticas enraizadas em uma cultura que, hoje, dá sinais muito claros de saturação.

Ocorra o que ocorrer com eles, entretanto, e mesmo que, eventualmente, burlem os visíveis mecanismos de justiça, já lhes sobreveio, e lhes continuará sobrevindo, o ama rgo e natural resultado de seus erros. Episódios como estes têm profunda repercussão no íntimo tribunal da consciência de seus agentes. Consciência não se burla e, perante seus precisos indicadores do bem e do mal, do certo e do errado, não sobra qualquer espaço para a impunidade.

Para seus responsáveis e para a nação, ademais, estes acontecimentos históricos hão de ter efeito altamente pedagógico. Nada têm de apocalípticos. Não são, como alguns chegam a interpretar, indícios do final dos tempos. Claramente, contudo, compõem um quadro a caracterizar o fim de um tempo, prenunciando um novo amanhecer.
Artigo publicado no Jornal ZERO HORA de Porto Alegre em 12 de janeiro de 2013