quarta-feira, 27 de abril de 2011

CCEPA comemora 75 anos










   O dia 23 de abril último, registrou 75 anos de existência do nosso Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, 45 dos quais dedicados à busca de um espiritismo restaurado à sua essência dinâmica e livre-pensadora, tão insistentemente estimulada pelo seu fundador Allan Kardec.
    Foi  a partir dos anos oitenta que, com clareza maior, definiu-se o modelo que mais se ajustava aos anseios do nosso pequeno, mas corajoso, grupo. A partir daí avançamos com mais desenvoltura na construção de um espiritismo "emancipado de místicos e milagreiros, ainda mercadores de indulgências, que elegeram um Jesus, quase sempre triste com os nossos pecados, passivo e estático, que eles adoram sem compreender a dinâmica de sua mensagem libertadora", na imagem do espírito J. Cacique de Barros em mensagem de aprovação e estímulo de 4 de abril de 1986.
    Como era de se esperar, considerando a natureza conservadora do espiritismo brasileiro, a reação não tardou. Foi surpreendentemente virulenta já que partiu de antigos companheiros de luta e aprendizado. Fomos vilipendiados, excomungados e tivemos que caminhar sozinhos por compreender que a natureza libertadora e progressista  da visão espírita de homem e de mundo nos convida a entender que não basta que o espiritismo exista ele precisa se continuadamente construído, não contra, mas apesar  daqueles que o querem reduzir a mais uma seita cristã.
    Para o pequeno, mas fortemente unido, grupo de trabalhadores a lição relembrada mais uma vez naquele 23 de abril foi que, a aventura da liberdade tem custo elevado, porém altamente compensador.
    Depois de tantos anos de convivência e estudo, nada define melhor a postura do nosso grupo diante do pensamento espírita do que o lema, cunhado por nosso companheiro Maurice Herbert Jones, que temos adotado há muitos anos:
    "Sabemos pouco, não temos certezas definitivas mas ousamos buscar".


A data foi comemorada em singela confraternização entre os membros da instituição, na reunião da 'Oficina de Trabalhadores" de 25/04.

sexta-feira, 4 de março de 2011

VALEU, MAESTRO!

       O toque de emoção do Carnaval brasileiro fica por conta da Escola de Samba Vai-Vai, de São Paulo, com a homenagem ao grande maestro João Carlos Martins (na foto).
    Que homem extraordinário aquele! Sua vida é um exemplo do quanto o ser humano é capaz de realizar por um ideal. O ideal dele sempre foi a música. Ainda criança, demonstrou sua irresistível vocação.  Há pessoas que já nascem talentosas. Trazem, certamente de outras vidas, aptidões que as fazem gênios desde pequenos.  Assim foi com João Carlos que, aos oito anos, já dominava com maestria as teclas do piano e foi vencedor de um concurso executando músicas de Bach. Logo seria um pianista conhecido no mundo inteiro.
          Depois, o Brasil e o mundo acompanharam o drama do grande instrumentista. Um grave acidente seguido de uma doença que o privaria dos movimentos da mão direita. Quando se recuperava, foi vítima de um assalto que lhe deformou as duas mãos. Já não poderia tocar piano. Mas, seu amor pela música levou-o a recomeçar a carreira como maestro.
           Hoje, João Carlos Martins dedica-se a um grande projeto de inclusão social através da música. Rege uma orquestra de jovens carentes, em São Paulo. E, incrível, voltou a tocar piano, superando suas deficiências físicas.
           Por tudo isso, a escola de samba paulista fez de João Carlos Martins o grande homenageado deste Carnaval. Com o sambe-enredo “A música venceu”, mesclou o clássico com o popular. Sinfonias de Bach evocadas no samba que nasce da alma do povo brasileiro. Lindo espetáculo, celebrando um notável exemplo de superação, coragem e amor à vida!
          Valeu, maestro! Não basta tocar a vida. É preciso saber regê-la. 
Milton Medran Moreira
Artigo publicado no Jornal 'Diário Gaúcho" de 08/03/2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

OPRESSÃO, PROGRESSO E ESPIRITUALIDADE

Todo poder excessivo é destruído pelo seu próprio excesso.
                                                               Casimir Delavigne
               
O início do ano foi marcado por uma sequência de revoltas populares, queda de ditaduras e sérios abalos a outros regimes autoritários do mundo árabe. A partir da derrubada de Zine El Abadine Ben Ali, o povo da Tunísia pôs fim a uma ditadura que já completara 23 anos. A mesma sorte teria, logo, o ditador Hosni Mubarak, do Egito, ao ser apeado do poder que detinha havia 30 anos. Seguiram-se levantes populares, com maior ou menor êxito, no Iêmen, Jordânia, Síria, Irã, Bahrein, Líbia, Marrocos e Kuwait.

Diferentemente do mundo ocidental, cristão, todos esses países têm como religião preponderante, quando não oficial e de culto obrigatório, o islamismo. Politicamente, são regidos por governos fortes, onde são escassos, frágeis, ou mesmo inexistentes, o reconhecimento e a prática das garantias de liberdade constitucionalmente asseguradas nas nações do Ocidente. Agora, como numa onda avassaladora, aquelas populações clamam e lutam por democracia, caminho único à conquista da plena cidadania fundada na liberdade humana.
É comum entre nós a afirmação de que o Ocidente conquistou o moderno Estado de Direito graças à assimilação e ao desenvolvimento das propostas cristãs. Não se pode esquecer, no entanto, que o Humanismo e o Iluminismo, movimentos inspiradores da democracia moderna, tiveram justamente no cristianismo real e institucionalizado o grande adversário e opositor das ideias de liberdade. A conquista do Estado de Direito foi, a rigor, o resultado de uma dura luta do laicismo e do secularismo contra a religião, marcando o advento da modernidade.
É muito cedo para se afirmar que os países do bloco árabe/islâmico estejam inaugurando seu Iluminismo. Até porque, entre os opositores das ditaduras agora contestadas, existem segmentos religiosos fundamentalistas que aspiram transformar algumas dessas ditaduras civis ou militares em novas teocracias muçulmanas. De qualquer sorte, o vigor demonstrado e o parcial êxito atingido indicam um movimento, ainda que lento, no caminho da democracia e das liberdades. A busca desses valores, antes de se inspirar em revelações religiosas, nasce da própria condição humana. O espírito, chama divina que alumia a trajetória da consciência rumo à perfeição e à plenitude, é o grande agente das transformações políticas, sociais e éticas. A humanidade, toda ela, em qualquer segmento cultural, étnico ou sistema de crenças, goza, intrinsecamente, do direito à liberdade de pensar, de crer ou descrer, de agir, de escolher seus caminhos, entre erros e acertos que redundarão sempre em ricas experiências.
A opressão, seja religiosa, seja ideológica, invariável resultado do orgulho e do egoísmo de uns poucos em detrimento de outros, tem sido, na história dos povos, o maior obstáculo ao progresso cultural, social e espiritual do gênero humano. Mas, um dia ela termina. Não resiste à vocação progressista e à força do espírito.
Milton Medran Moreira
Artigo publicado no jornal ZERO-HORA de 23/02/2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

NOTÍCIAS DO CONSELHO SUPREMO NACIONAL ESPIRITA DE CUBA


Para conhecimento de todos, reproduzimos abaixo a correspondência (e-mail) enviada pelo presidente do CSNEC ao CCEPA.

¡Hermanos de CEPA! Mucho nos han alegrado las noticias que sistemáticamente nos han hecho llegar, las que han sido objeto de divulgación en las sesiones de trabajo del Consejo Supremo Nacional Espiritista de Cuba (CSNEC) ? Asociación Casa de los Espiritistas y hemos divulgado entre los Centros y Sociedades del País. En el presente nos preparamos con vista al Congreso Nacional Espiritista que tendrá como sede la hermosa Ciudad de Bayamo, rica por la tradición de cultura e historia nacional y por ser uno de los principales baluartes de la práctica espiritista en el país. La reunión se desarrollará en el próximo mes de abril; pero antes en febrero tenemos un suceso que llena de júbilo a todos los Espiritistas Cubanos, este hecho está relacionado con la reposición del Busto de Allan Kardec en lugar público, este busto tiene una historia que se remonta a 1957, cuando en ocasión del entenario del Libro de los Espíritus fuera develado en el parque La Pera, en la capital habanera bajo auspicio de la Federación Espiritista de Cuba y en atención a la iniciativa de la Sociedad Espiritista ¨ Enrique Carbonell ¨.

Tras años de custodia compartida entre el Consejo Supremo Nacional Espiritista de Cuba y el Historiador de la Ciudad, Dr. Eusebio Leal Spengler, contando con el apoyo de las Autoridades del Gobierno Cubano, ha sido encontrado el sitio adecuado para su reposición y exposición permanente al público cubano en general, a los que visiten nuestro país y así lo deseen, sin que medie actividad de lucro alguna, por mínima que pudiera ser.
El fin perseguido por los espiritistas de hoy, abrigados en el Consejo Supremo Nacional Espiritista de Cuba, de los Centros y Sociedades a su abrigo y en representación de todas las aspiraciones de los pasados y presentes espiritistas es el sentimiento de que Allan Kardec es patrimonio de la Humanidad y como tal, el mejor territorio es La Habana Vieja, municipio que alberga el Centro Histórico de la Ciudad, declarado Patrimonio Cultural de la Humanidad por la UNESCO en los años 80.
Así hermanos de CEPA, trabajamos para rendir homenaje a Allan Kardec, el próximo 6 de febrero a las 10.00 am, en el parque que custodiará por siempre, su presencia entre nosotros. Les solicitamos apoyo en la divulgación de este acontecimiento feliz.
Nota: Comenzamos a considerar la posibilidad de estar presentes en el Congreso del año 2012, esto lo trataremos más adelante.
Atentamente, reciban una abrazo fraternal de los Hermanos Cubanos,
Alfredo Durán Arias.
Presidente. CSNEC.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

“Opinião” recebe Certificado de Reconhecimento

A ANESPB PRESS – Agência de Notícias Espíritas da Paraíba - http://anespbpress.blogspot.com outorgar ao jornal CCEPA Opinião o Certificado de Reconhecimento 2010.
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Segundo o jornalista Carlos Antonio de Barros, da ANESPB PRESS, o Certificado de Reconhecimento 2010 é um prêmio à excelência do jornalismo espírita produzido e praticado por impressos e eletrônicos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

JACI REGIS - 1932/2010


Aos 78 anos de idade desencarnou hoje, dia 13 de dezembro de 2010, na cidade de Santos-SP, o escritor, jornalista, psicólogo  e extraordinário líder espírita Jaci Regis.
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Dotado de personalidade marcante, polêmica  e corajosa, foi um dos principais inspiradores  do movimento de renovação que abalou o espiritismo brasileiro nos últimos trinta anos. O jornal Abertura e o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita por ele criados estimularam toda uma geração de espíritas e simpatizantes  que multiplicaram ações para possibilitar  o surgimento de um espiritismo de janelas abertas.  Cessa a vida física mas o exemplo e a obra deste querido companheiro permanecerão, encorajando os que foram tocados pelo seu amor ao espiritismo

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

COMEMORAR, AGRADECER E RETRIBUIR

 É tempo de comemorar e comemorações são sempre ruidosas. Difícil recolher-se ao silêncio, nesta quadra tão agitada do ano. E, no entanto, mais do que nunca, é tempo de empreender a silenciosa viagem para dentro de nós mesmos. Porque também é tempo de agradecer, e a alma, quando agradece, quer fazê-lo silenciosamente.
 O ano não foi exatamente como queríamos? Entretanto, se fizermos o balanço, com certeza concluiremos ter recebido bem mais do que demos. Muitas de nossas conquistas fomos buscá-las no amplo reservatório acumulado lá no fundo da alma. Ali estão preciosas reservas deixadas por nossa própria experiência, juntamente com outras depositadas por terceiros em nosso favor. Poupanças a serem utilizadas quando delas necessitássemos. Muitos daqueles depositantes não estão mais conosco. Alguns deles podemos identificar pelo nome. Ou pela forma carinhosa como os chamávamos: papai, mamãe, mano, amigo...Talvez um mestre que nos legou lições de vida  importantes para a hora da crise. O momento é próprio para chamá-los todos ao nosso convívio, pela lembrança carinhosa em forma de prece.
Há outros, a maioria, que não estiveram conosco nesta jornada. Talvez nem saibamos seus nomes.  Mas, quantos benefícios nos legaram! A respeito deles, Albert Einstein disse certa vez: “Cem vezes, todos os dias, lembro a mim mesmo que minha vida interior e exterior depende dos trabalhos de outros homens, vivos ou mortos, e que devo esforçar-me a fim de devolver na mesma medida em que recebi”.
A vida é uma imensa rede de solidariedade que a alimenta e faz sua riqueza. Razões para comemorar, agradecer e retribuir.
 Milton Medran Moreira 

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

NO DIA DA CRIANÇA

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Quem é pai ou mãe sabe. Quem as educa e convive com elas também sabe. Crianças são surpreendentes. Inteligentes, amorosas, enchem de alegria a vida da gente. Mas, cá para nós, às vezes, são agressivas, invejosas, violentas. Algumas parecem trazer, no fundo da alma, tendências destrutivas. Não dizemos que são más. Preferimos afirmar que têm índole difícil. Normalmente as descrevemos como seres inocentes que ainda não conheceram o bem e o mal. Mas, contraditoriamente, desde cedo, identificamos nelas bons ou maus sentimentos. Alguns desses sentimentos crescem com elas. Poderão fazer delas cidadãos de bem, educados, prestativos, honestos. Ou, quem sabe, transformarão as crianças de hoje nos bandidos, corruptos ou desajustados de amanhã.
                Dizer que já nascem prontas não é certo. Mas também não é correto afirmar que nasçam inocentes. Recomeçam, ao nascer, a vida que interromperam em experiência anterior. Onde renascerem, encontrarão alternativas para sua evolução. Nós, que recebemos esses espíritos em nosso lar ou na sociedade em que vivemos, influiremos decisivamente em sua trajetória. O exemplo, o afeto, a orientação, os esforços que fizermos em favor deles iluminarão sua caminhada. Mas, os maus exemplos, as atitudes egoístas, desonestas e violentas poderão despertar neles os vícios e más inclinações que agora poderiam dominar.
                Ninguém que por aqui transita é inocente. Somos um somatório de experiências boas e más. A vida é uma aventura. Uma fascinante aventura. Descubra isso hoje olhando nos olhos de uma criança. Talvez vislumbre um pouco de sua alma. Fascinante, como toda a vida humana. Mas dependente, como são todos os espíritos com quem somos convidados a compartilhar a vida.
Milton Medran Moreira - Crônica publicada no jornal Diário Gaúcho em 12/10/2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

NOSSO LAR

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No momento em que escrevo esta crônica, o filme “Nosso Lar” bate todos os recordes de bilheteria. Nos primeiros dez dias de exibição, foi assistido por mais de 1,6 milhão de pessoas. No instante em que você lê esta coluna, milhares de espectadores terão ampliado bastante esse número. Um sucesso, como já ocorrera antes com a película sobre a vida de Chico Xavier.
Que fenômeno é esse que leva tanta gente a se interessar por produções com temáticas espíritas, como é o caso de “Escrito nas Estrelas”, da Rede Globo? Não é apenas um fenômeno brasileiro. Basta recordar o êxito de “Ghost” e outras tantas produções americanas que tratam da vida depois da vida e da possibilidade de comunicação com espíritos. Tanto assim que “Nosso Lar” já figura como possível candidato ao Oscar de filmes estrangeiros.
Nossa consciência sobrevive à morte? Para onde vamos, então? De onde estivermos poderemos nos comunicar com aqueles que aqui estão? Por séculos, essas questões estiveram aprisionadas nos dogmas religiosos. A ciência delas não tratava. As religiões fecharam-nas no quarto escuro do mistério e guardaram a chave. Hoje, pesquisas avançadas sobre sobrevivência do espírito, comunicação e reencarnação rompem o mistério. Na outra ponta, a sensibilidade humana viaja, conduzida pela intuição, pelos amplos caminhos do sonho e da ficção. Nada mais fiel que a arte para retratar as profundas verdades que moram na alma humana. Os artistas são os precursores dos avanços e descobertas humanas. Ontem, eram os grandes pintores, os romancistas e os poetas. Hoje, se juntam a eles as produções do cinema e da televisão. É a arte imitando a vida. A verdadeira vida. A vida da consciência. A vida do espírito!
Milton Medran Moreira
Crônica publicada no jornal Diário Gaucho de Porto Alegre

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

IDENTIDADE DO ESPIRITISMO FOI TEMA DO ENCONTRO DA CEPABrasil

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Embalados pelo lema “gente da boa cepa na terra dos vinhedos”, delegados e amigos da Confederação Espírita Pan-Americana reuniram-se de 3 a 6 de setembro último, nas instalações do Hotel Dall’Onder, na cidade de Bento Gonçalves/RS, “capital brasileira da uva e do vinho”.

O II Encontro Nacional da CEPABrasil foi promovido pela Associação Brasileira dos Delegados e Amigos da CEPA - http://cepabrasil.blogspot.com - e organizado pelo Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - http://ccepa.blogspot.com - , com o apoio do Lar da Caridade, de Bento Gonçalves. O evento contou com a presença de cerca de 150 participantes dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Paraíba e Ceará, recebendo, ainda, uma delegação da Argentina, integrada pelo presidente da CEPA, Dante López, e vários outros dirigentes da instituição pan-americana.

A abertura, na noite de sexta-feira (3/9), após belíssima apresentação de balé, a cargo de uma escola de dança da cidade serrana que sediou o evento, constou de uma conferência proferida pelo ex-presidente da CEPA, Milton Medran Moreira, abordando “Espiritismo – dos fundamentos às consequências”.

Nos três dias seguintes, os pensadores espíritas Jaci Regis, Mauro Spínola, Dante López, Jacira Jacinto da Silva, Luiz Signates, Homero Ward da Rosa, Moacir Costa de Araújo Lima, Amely Martins, Ricardo Nunes, Matheus Laureano, Marcelo Henrique Pereira, Ademar Arthur Chioro dos Reis e Adão Araújo, em conferências, painéis e mesas-redondas aprofundaram o tema “identidade do espiritismo”, abordando seus aspectos científicos, sociais, filosóficos e éticos. Todos os temas comportaram debates e trocas de opinião, com a livre manifestação de todos os presentes.

Ao final, em reunião da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, foi aprovada uma Carta de Posicionamentos da CEPABrasil, pronunciando-se sobre a identidade do espiritismo e abordando temas ligados ao movimento espírita brasileiro. O documento será brevemente levado à publicação. Também foi feito o lançamento oficial do XXI Congresso Espírita Pan-americano, que será realizado no período de 5 a 9 de setembro de 2012, em Santos-SP.

Um jantar de confraternização, com cardápio e espetáculo artístico típicos do Rio Grande do Sul e também a visita a uma vinícola da cidade integraram a programação. No encerramento, foram entregues as credenciais aos novos delegados da Confederação Espírita Pan-americana e outorgado o diploma de adesão à União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará. Usaram da palavra o presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Rui Nazário de Oliveira e a presidenta da CEPABrasil, Alcione Moreno, agradecendo a participação de todos. Logo após, em clima de muita emoção, entoou-se a canção “Semente do Amanhã”, do Gonzaguinha, previamente ensaiada pela maestrina Sandra Regis, cantada por todos os integrantes do Encontro.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

"SEGMENTO PADRÃO" COMEÇA A SER PERCEBIDO

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Os registros a Francisco Cândido Xavier, na grande imprensa, por ocasião de seu centenário, também consignam a existência de um espiritismo laico e livre-pensador, como contraponto à visão religiosa, assumida pelo médium de Uberaba. Estaria começando a se confirmar a previsão do pensador espírita Krishnamurti de Carvalho Dias sobre a hora e a vez do “segmento padrão”?

Espiritismo “à brasileira”
A antropóloga paulista Sandra Stoll foi entrevistada pelo caderno “Aliás” do jornal O Estado de São Paulo (18/4/10), repercutindo o sucesso do filme “Chico Xavier”, lançado em comemoração ao centenário do médium. Doutora pela USP e autora de livros e trabalhos acadêmicos sobre espiritismo, Sandra, que participou do Congresso da CEPA em Porto Alegre (2.000), descreve Chico como alguém que foi capaz de absorver do catolicismo elementos formadores da “religião espírita”, criando assim um "espiritismo à brasileira”. Para ela, baseado nos princípios e práticas do catolicismo, Chico “instaurou o que podemos chamar de uma ‘ética da santidade’, consolidada em torno da prática da caridade que exerceu por mais de 70 anos e outros valores monásticos, como a pobreza e a castidade”. Mas, a antropóloga ressalta que, ao contrário do que possa parecer, “Chico não representa unanimidade no meio espírita”, pois é questionado por setores mais comprometidos com a “tradição kardecista".

Publicação da Editora Abril liga CEPA ao “espiritismo laico”
“Espiritismo – a trajetória de uma doutrina” foi o título de capa de Aventuras da História, publicação da Editora Abril, em março último. Toda a edição foi dedicada à história do espiritismo, uma doutrina “que se deu tão bem por aqui que surgiram várias ramificações”, escreveu Michele Veronese, redatora da revista. Matheus Laureano, presidente da Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa/PB, entrevistado, salientou: “De alguns anos para cá, novos grupos estão surgindo com uma preocupação maior em estudar o fenômeno espírita pela ótica da ciência”. Segundo ele, “muitas dessas associações se reúnem em congressos e encontros, e são vinculadas à Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), espécie de guarda-chuva que abarca todas elas e defende o espiritismo laico”.
A publicação relaciona outras tendências que se originaram do espiritismo: ramatismo, divinismo, apometria, racionalismo cristão, transcomunicação, ufologia espírita e umbanda, segmentos que comporiam essa “árvore de muitos galhos”, como é ali classificado o espiritismo.

Apenas uma tendência ou o genuíno “segmento padrão”?
No XVIII Congresso Espírita Pan-Americano (Porto Alegre/outubro 2.000), Krishnamurti de Carvalho Dias, autor de O Laço e o Culto, apresentou trabalho com o título de “A Hora e a Vez do Segmento Padrão” (livro A Cepa e a Atualização do Espiritismo – www.cepanet.org), sustentando que o futuro do espiritismo dependeria de assumir definitivamente esse caráter não-religioso. No livro A Descoberta do Espírito, então lançado, Krishnamurti insiste: “A condição original genuína do Espiritismo é a de ser uma ciência”, e “o que vive sendo repetido sobre ele, de que seria uma religião, não passa de um terrível equívoco de seus adeptos”, ou seja, “um boato, explorado e fomentado por seus adversários, para o neutralizar”.
Dez anos depois, constata-se um significativo avanço, dentro do meio espírita, da concepção de um espiritismo científico, filosófico/moral, resultado de uma postura progressista e livre-pensadora de muitos espíritas. Algumas, ainda escassas, referências a essa tendência começam a aparecer também na grande imprensa, tendo, como pano de fundo, exatamente as homenagens que se prestam ao homem-símbolo do espiritismo religioso. Seria um indício de que, de fato, é chegada “a hora e a vez do segmento padrão”?
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RECORDANDO KRISHNAMURTI

Quando surgiram as primeiras contestações ao aspecto religioso, no chamado movimento espírita “unificado”, muitos afirmaram tratar-se de uma “manobra das trevas”, objetivando acabar com o espiritismo. Krishnamurti de Carvalho Dias que, na década de 80, juntamente com o “Grupo de Santos” e alguns então dirigentes da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, defendia a condição laica do espiritismo, já naquele tempo, sustentava o contrário: fugir da condição de religião e identificá-lo como uma proposta científica de consequências filosófico-morais, como o fizera Kardec, seria a melhor estratégia para o crescimento do espiritismo e a união dos espíritas, nos novos tempos.

Krishnamurti defendeu ardorosamente essa ideia até os últimos dias de sua vida física. Compareceu ao Congresso de Porto Alegre (outubro/2000) já em estado terminal, vítima de insidioso câncer. Corajoso e lúcido, terminou seu trabalho, dizendo: “De coração desejo isso: que nos entendamos”. Nas palavras finais de sua peça, apelava no sentido de que “nos procuremos, solidários, solícitos uns com os outros, embora as por vezes abissais diferenças”. Atribuía as divergências aos “milênios de religiosismo e religiosidade” de alguns, tendo como contraponto “apenas algumas décadas de desconfessionalização e dessacralização” de outros. Ciente de sua desencarnação breve (ela se daria em janeiro de 2001), prestou, em seu trabalho, homenagem ao que chamou de “segmento padrão”, então representado pela “luminosa CEPA cuja volta ao Brasil”, apregoou “tive a felicidade de presenciar”.

Os espíritas brasileiros ligados à CEPA buscam cultivar esse legado, convictos de que o conhecimento das bases fundamentais do espiritismo é a própria garantia de seu crescimento e da união de todos os espíritas. Por isso, elegeram como tema do II Encontro Nacional da CEPA no Brasil (Bento Gonçalves/RS, 3 a 6 de setembro/2010): “O que é o Espiritismo – A questão da identidade”. Queremos continuar merecendo a qualificação que nos outorgou Krishnamurti: segmento padrão. Para isso, só uma coisa temos de fazer: estudar, divulgar e desenvolver o espiritismo nos moldes propostos por Allan Kardec. Todos os que quiserem se somar a nós nessa tarefa serão bem-vindos.

Matéria publicada no jornal "Opinião" de maio de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dirigentes do CCEPA participaram de Encontro em Málaga/ES

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O presidente do Centro Cultural Espíritade Porto Alegre, Rui Paulo Nazário de Oliveira, juntamente com os diretores Milton Medran Moreira (Comunicação Social) e Sílvia Pinto Moreira (Atividades Sociais), estiveram presentes no 1º Encontro Espírita Íbero-Americano, em Torremolinos, Málaga, Espanha, de 19 a 21 de março último. Ao grupo reuniu-se Cecília Miller (irmã de Rui), colaboradora do CCEPA, hoje residente em Chicago (USA). Medran fez a conferência final do evento, e Sílvia, no encerramento, representou a delegação do CCEPA, pronunciando algumas palavras de apoio ao importante acontecimento que reuniu espíritas da Europa e das Américas e discutiu temas doutrinários diversos a partir da proposta “Espiritismo – Uma Contribuição à Evolução Consciente”.
Na foto, Sílvia Moreira e Cecilia Miller

quarta-feira, 10 de março de 2010

INTELIGÊNCIA E MORAL

Milton R. Medran Moreira*

“Há quem chegue às maiores alturas
só para fazer as maiores baixezas.”
Ministro Carlos Ayres Brito,
do Supremo Tribunal Federal
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Talvez nunca, como nesta quadra da história republicana nacional, tenhamos tão agudamente percebido o distanciamento entre a inteligência e a ética, em determinadas figuras de nosso cenário político.
Enfrentando, em 5 de março último, o julgamento de um habeas corpus impetrado por governador de uma unidade da federação que, flagrado em suposto e grave ato de corrupção, saiu do palácio do governo diretamente para a prisão, um dos julgadores da mais alta corte da Justiça, negando-lhe concessão, deplorou o episódio, pronunciando a frase emblemática que serve de epígrafe a este artigo.

Os espíritos interlocutores de Allan Kardec, quando da elaboração de O Livro dos Espíritos (1857), enfatizaram esse componente do progresso humano: o descompasso entre o progresso intelectual e o moral. Aquele sempre anda mais depressa, disseram, porque “o fruto não pode vir antes da flor” (questão 791). Chegaram a asseverar que “à primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual redobra a atividade daqueles vícios” (falavam do orgulho e do egoísmo), “desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas” (q. 785). Complementaram, contudo, dizendo que “do mal pode nascer o bem” e que o conhecimento das leis maiores da vida conduz, necessariamente, o homem e a sociedade a estágios de melhoria moral.
Deploravelmente, homens que deveriam ser exemplos de honradez, em face dos elevados cargos que ocupam, têm protagonizado cenas de extremada vilania, locupletando-se despudoradamente dos bens públicos pelos quais deveriam zelar. Se, entretanto, a impunidade foi até aqui regra, aos poucos, deixa de sê-lo. Há, felizmente, uma consciência em favor da ética pública que cresce no seio do povo e força a adoção de medidas profiláticas, punitivas e moralizadoras.
O conhecimento da verdadeira natureza espiritual do homem e de sua responsabilidade, além dos mecanismos legais e fiscalizadores aqui disponíveis, é instrumento poderoso de progresso moral. Talvez o mais eficiente para reduzir o descompasso claramente perceptível entre aquele e o progresso intelectual. Um e outro hão de se aproximar, no dia em que, definitivamente, se com-preender que inteligência sem ética é como uma árvore sem flores e sem frutos.

* Jornalista, diretor de comunicação social
do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre

Artigo publicado no Jornal "ZERO HORA" de Porto Alegre em 10.03.2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

MEDRAN EM BENTO GONÇALVES

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O Diretor de Comunicação Social do CCEPA, Milton Medran Moreira, fará conferência com o tema "O Espírito de um Novo Tempo", no Lar da Caridade, na cidade de Bento Gonçalves, às 20h do dia 23 de fevereiro próximo.

Na oportunidade, Medran fará o lançamento, naquela localidade, de seu livro de crônicas "O Espírito de um Novo Tempo ou Um Novo Tempo para o Espírito", recentemente editado. A obra apresenta 100 crônicas sobre fatos relevantes ou do cotidiano, ambientadas nos 10 primeiros anos do novo milênio, a partir de uma visão espírita.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

SONHOS, CAMINHADAS E METAS

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Após aquela consulta a meu cardiologista, em abril de 2009, tomei a decisão: até o fim do ano emagreceria 8 quilos. Moderei na comida, eliminei quase inteiramente os doces e, quase todos os dias, fazia uma hora de caminhada.

Resultado: quase consegui. A balança, em 31 de dezembro, mostrou a implacável realidade: eu perdera 7 quilos, de abril a dezembro. Nada mau para quem, nos meses anteriores sempre via somados alguns gramas ou quilinhos a mais em cada pesagem.

Se estou frustrado? Não exatamente. A experiência trouxe uma boa lição. Sempre vale a pena traçar metas que julgamos possível serem alcançadas. Se a gente não as atinge inteiramente, isso até funciona como estímulo: na próxima caminhada, vai-se buscar ir um pouco mais longe.

Planejar e sonhar são coisas tão reais como fazer. Sonhos são alicerces sobre os quais construímos nossas ações. São projeções concretas do futuro. E quando assimilamos a vida como um futuro que não tem fim, passamos a construir cenários onde todos os sonhos são postos como realidades possíveis. E, então, aprendemos a adiar conquistas, sem nunca deixar de sonhá-las.

Com certeza, você já traçou suas metas para 2010. Um ano é tempo bastante para concretizar sonhos. Mas é período curto demais para se atingir todos os objetivos que o horizonte infinito da vida descortina.

O tempo está sempre a nosso favor. Mesmo que nem sempre o aproveitemos bem e fiquemos apenas no “quase”. O importante é nunca desistir dos sonhos. Na próxima vez, chegaremos lá. E, então, será tempo de sonhar mais alto.
Milton Medran Moreira - Publicado no Jornal "Diário Gaúcho)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ESTAMOS SOZINHOS NO UNIVERSO?

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A Igreja Católica começa a rever a histórica oposição à hipótese da pluralidade dos mundos habitados. Seminário sobre astrobiologia no Vaticano abre caminho para a aceitação da tese defendida pelo espiritismo desde seu nascimento.

Um evento histórico na Santa Sé
Um seminário sobre astrobiologia promovido em novembro pela Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano, acaba de abrir caminho para a aceitação pela Igreja de um princípio historicamente combatido pelo catolicismo: o da pluralidade dos mundos habitados.

Segundo a Rádio do Vaticano, a Santa Sé levantou a questão da possibilidade de vida inteligente extraterrestre, em seminário sobre astrobiologia encerrado em 10 novembro. Um dos participantes expressou a convicção de que essa descoberta estava relativamente próxima. O Padre Chris Impey, astrônomo da Universidade do Arizona, disse que "em alguns anos, serão encontradas formas de vida no universo, seja no sistema solar ou fora dele". Também destacou que "progressos incríveis foram feitos na pesquisa sobre os planetas". E lembrou: “Foi apenas em 1995 que encontramos o primeiro planeta fora do sistema solar e agora conhecemos mais de 400”.

Já em 2008, o jesuíta José Gabriel Funes, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano surpreendeu a todos os que acompanham a história da Igreja e, principalmente, a outras igrejas cristãs mais conservadoras, quando, em entrevista a “L'Osservatore Romano”, admitiu a existência de “outros seres inteligentes, criados por Deus, fora da Terra”. Sustentou, na ocasião: “Isso não contradiz nossa fé porque não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus".

Na ocasião, a Igreja Ortodoxa Russa, através do teólogo Alexei Osipov, catedrático da Academia Espiritual de Moscou, expressou que sua igreja descarta a existência de civilizações extraterrestres inteligentes e que a declaração de Funes contrariava frontalmente o Antigo e o Novo Testamento.

Hipóteses não descartam a existência de vida no sistema solar

Embora realizado por um órgão ligado à estrutura do Vaticano, o seminário contou com a participação de estudiosos da matéria não vinculados à Santa Sé, como a doutora Athena Cosutenis, astrônoma do observatório de Paris. Ela se referiu aos diversos elementos compatíveis com a vida espalhados no universo. Recordou que, sob a superfície da lua Europa, no sistema de Júpiter, pode haver grande quantidade de água em estado líquido. Neste oceano, poderiam existir diversas formas de vida. A astrônoma indicou que há dois satélites que despertam particular interesse dos astrobiólogos. Encontram-se no sistema de Saturno e são Titã e Encelado. Titã apresenta características similares às da Terra e Encelado parece oferecer condições aptas para a vida, segundo a professora Cosutenis.
Milton Medran Moreira - Extraido do Jornal Opinião

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

FÉ EM TEMPO DE GLOBALIZAÇÃO

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“Parecemos tão livres e estamos tão encadeados...” (Robert Browning)
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A liberdade de crença é uma das grandes conquistas da modernidade. Por longos mil anos, estivemos, no âmbito da cristandade, condenados a professar um único sistema de fé. Naquele 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses questionando alguns dogmas e práticas da Igreja de Roma. Seria o marco inicial da Reforma Protestante, graças à qual a cristandade do século 16 e seguintes se libertaria do jugo da crença única.Desde então, têm-se multiplicado por todo o mundo as igrejas cristãs. Algo positivo. Mesmo preservados alguns dogmas fundamentais com os quais todas elas comungam, abriu-se o leque do pluralismo religioso, estimulando-se, teoricamente, a liberdade de pensamento. Mas, por históricas distorções sedimentadas na cristandade, fé, poder e dinheiro têm sido fatores difíceis de se dissociarem. Mesmo que, ao curso de toda a história das igrejas, espíritos de escol, fiéis à autêntica mensagem de Jesus de Nazaré, hajam combatido aquela espúria associação, o certo é que a proliferação das igrejas, notadamente nos últimos 50 anos, tem se orientado justamente por essa fórmula. É ela a própria garantia de seu êxito.As bases a sustentar o modelo desse cristianismo de nosso século partem dos seguintes pressupostos: a fé é inquestionável, pois se funda na própria palavra de Deus; o poder emana diretamente da autoridade divina, a serviço da qual cada uma dessas igrejas afirma estar; o dinheiro empregado na “obra de Deus” retornará ao doador, multiplicado em bens de consumo, saúde, prosperidade e venturas no amor, benesses só concedidas aos crentes. Estes, por acréscimo, ainda obterão a salvação eterna.O marketing empregado se afina com a economia de mercado, adotada por uma sociedade ainda movida por políticas excludentes, em que uns poucos são agraciados pelos bens da vida e muitos outros condenados à marginalidade. Enquanto esse modelo perdurar, as igrejas cultivadoras da teologia da prosperidade seguirão crescendo, à custa de vítimas incautas ou de espíritos atrasados, presos às malhas do egoísmo e da ignorância. A grande motivação para a adesão a esse sistema de fé é o apelo que se faz a um sonhado “upgrade” social e econômico.Poderão se inscrever essas práticas nos modernos postulados da liberdade de crença? Com certeza não. Tampouco isso estaria nos planos do irrequieto monge que afixou suas teses na porta daquela igreja, há 492 anos. Trata-se, antes, de um verdadeiro estelionato da fé, astuciosamente engendrado, no seio da sociedade moderna e de suas garantias de liberdade de pensamento e crença. O modelo defrauda tanto os magnânimos projetos dos reformadores religiosos quanto os dos humanistas, livres-pensadores e laicos, que, no nascer da modernidade, ousaram contestar coisas como vendas de indulgências, autoritarismo e corrupção religiosa.
Milton Medran Moreira
Artigo publicado no jornal ZERO HORA de 24.10.2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MEDRAN LANÇA NOVO LIVRO DE CRÔNICAS

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Na tarde de 13 de setembro, durante um almoço confraternativo na sede do CCEPA, foi feito um lançamento preliminar, para os amigos presentes, do último livro de crônicas do ex-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana, jornalista e Diretor do Departamento de Comunicação Social do CCEPA Milton R. Medran Moreira.

O autor reproduz em sua nova obra 100 crônicas publicadas em diversos órgãos de imprensa na primeira década dos anos 2000, tendo como temática dominante a realidade do espírito e suas consequências filosófico-morais.
O livro “O Espírito de um Novo Tempo ou um Novo Tempo para o Espírito” (Editora Imprensa Livre) já está disponível na livraria do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Rua Botafogo 678.

No dia 7 de novembro, às 14 horas, será feito o lançamento oficial com sessão de autógrafos na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre.
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Nos flagrantes, o momento em que o companheiro Maurice Jones apresentava aos presentes o autor e a sua obra e a sessão de autógrafos.














O ANO DA FRANÇA NO BRASIL: O LEGADO DE ALLAN KARDEC

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David Castilhos, Historiador.
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A metade do século XIX é marcada por estranhos fenômenos. Em clubes, cabarés e lares de Paris, pessoas se reúnem em torno de mesas que se movem. O apelido pega: tables tournantes.
Diversos cientistas se interessam pelas tais mesas, entre eles Faraday e que, em 1853, publica um artigo sobre suas observações.
No entanto, o que ocorre durante este período acaba por afastar a maioria dos homens de ciência, inicialmente curiosos. Através de um sistema de comunicação chamado tiptologia (certa quantidade de batidas representavam determinados tipos, letras), as tables começam a “falar”. E elas disseram que não se movimentavam sozinhas. Sofriam impulsos das almas de pessoas que já haviam morrido.
Afastaram-se os cientistas profissionais, principalmente, tudo leva a crer, por tratar-se de elementos sob domínio da superstição e da religião: vida após a morte, manifestação de espíritos, etc.
Mais de mil anos de controle exercido pelos dogmas religiosos foram o suficiente para que o bom senso recusasse qualquer indício de retorno à superstição.
A Razão optou por abster-se das pesquisas. Era arriscado. Além do mais, existiam (como ainda existe) um universo de mistérios da matéria a serem desvendados pela ciência. O sobrenatural podia esperar.
Em 1855, os fenômenos já haviam se modificado. De tables tournantes, o lápis era o instrumento que deslizava, ora em cestas de vime e pranchetas, ora nas mãos de pessoas tidas como intermediárias dos Espíritos, isto é, médiuns.
É neste contexto que surge um lionês que morava em Paris, o pedagogo e estudioso do Magnetismo Animal, Hipollyte Leon Denizard Rivail. Não era médium, mas observador dos fenômenos.
Recolhendo textos obtidos pela escríta atípica, elaborando hipóteses, organizando as experiências e abrindo questionamentos, Hipollyte dá nome à ciência por ele criada. Visto que seu objeto era o Espírito, chamou-a Espiritismo.
Obviamente, o mundo acadêmico a rejeitou.
Ao publicar seu primeiro livro de Espiritismo, Hipollyte usou um pseudônimo: Allan Kardec.
Em todas as enciclopédias é este pseudônimo que remete à definição fundador do Espiritismo, ou Doutrina Espírita.
Allan Kardec nunca esteve no Brasil, no entanto suas obras aqui chegaram rapidamente, devido à intensa relação cultural de nossa nação com a França.
Políticos, médicos, advogados, militares, artistas… eram muitos os ofícios daqueles que se dedicavam ao Espiritismo deste lado do Atlântico.
Com o tempo, no Brasil, a nascida ciência torna-se mais uma religião entre tantas de nosso solo marcado pelo misticismo. Este processo daria uma boa pesquisa. Mas, por ora, nos importa perguntar: o que Allan Kardec e sua doutrina têm de especial que, além das massas sedentas por novidades religiosas, agradou pessoas mais cultas no final do século XIX e início do século XX?.
O espiritismo tem relações com o saint-simonismo e sua busca pelo positivo. Por mais estranho que isso, hoje, nos possa parecer, Allan Kardec procurou uma análise racional de um fato que julgava como certo, real, positivo: a comunicação das almas dos mortos com os vivos.
Usou de método, ansiava por objetividade, buscava a elaboração de leis. Fez uma tentativa de retorno ao espiritual sem superstição.
Outro ponto que sugere o porquê de Allan Kardec ter caído no gosto de muitos brasileiros é o seu pensamento, ou melhor, o pensamento que resulta das suas observações, coleta de dados e, obviamente, suas reflexões.
O Espiritismo propunha o progresso da alma e, consequentemente, o progresso social.
Entendia que a reencarnação era mais lógica que uma única vida.
Defendia uma busca por progresso moral que permitiria reencarnações menos difíceis no futuro.
Além disso, os escritos mediúnicos diziam não haver céu ou inferno. A felicidade ou infelicidade, a paz de consciência ou o remorso seriam estados psicológicos metaforicamente chamados de céu ou inferno. Cada um seria o responsável por construir estes estados em si mesmo.
Se estes, entre outros pontos, agradaram a alguns, desagradaram a muitos.
Se os cientistas profissionais desdenharam Allan Kardec. Os religiosos tradicionais viram suas idéias como aberrações que intentavam retirar o poder das Igrejas como tradicionais intermediárias das “coisas de Deus”. Suas obras acabaram no Index.
Seu nome e sua doutrina são citados no Brasil até hoje (mesmo que em expressões populares). Ao tentar retirar da superstição fenômenos extraordinários, criou uma doutrina sofisticada e interessante que, independente das possíveis crenças religiosas que adotemos, merece ser conhecida.
Uma vez por mês, em Porto Alegre, na Usina do Gasômetro, as obras de Allan Kardec são apresentadas à comunidade. No ano da França no Brasil, é oportuno programa para quem desejar conhecer o pensamento deste notável francês.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009