terça-feira, 27 de agosto de 2013

ESPIRITISMO LAICO E HUMANIZAÇÃO DO NASCIMENTO



 Espiritualidade

Ricardo H. Jones - Médico ginecologista e Obstetra

A vinculação dos humanistas do nascimento com o espiritualismo é realmente interessante, como foi observado pela pesquisadora Nia Georges quando esteve no Brasil com Robbie Davis Floyd para pesquisar os humanistas que lutam pelo protagonismo restituído às mulheres. Com exceção de alguns poucos colegas, explicitamente ateus, eu acho que a imensa maioria dos humanistas do nascimento tem convicções teleológicas (não necessariamente religiosas, como eu). E, vejam bem, eu tenho um profundo respeito pelos ateus (meus irmãos são e meu filho também). Essa vinculação pode, talvez, ser explicada pela vertente psicológica e metafísica. Observar o nascimento é "uma bofetada no niilismo", me dizia Max. É muito difícil assistir o nascimento de uma criança e não vislumbrar que existe algo por detrás do meramente manifesto aos sentidos grosseiros. Existe uma magia que se esconde em cada gesto, em cada palavra e em cada olhar. O parto, assim visto, se assemelha muito mais a um reencontro do que com uma chegada. No meu caso específico, essa vinculação espiritualista foi quase visceral. Meu pai foi presidente da Federação Espírita do RS por muitos anos e é, segundo minha visão, um dos melhores pensadores espíritas contemporâneos. Ele foi um dos criadores do "espiritismo laico" no Brasil, o que o fez romper com a oficialidade do movimento espírita. Foi cofundador do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre (CCEPA), voltado ao estudo filosófico e científico do espiritismo. Abandonou por completo suas convicções religiosas (mas não teleológicas), a partir do estudo do próprio Kardec, nas publicações da Revue Espirite. Curioso (ou esclarecedor) é perceber que ambos (eu e ele) fazemos parte de movimentos contra-hegemônicos que visam a autodestruição.

Explico: em sua visão otimista do "porvir" do pensamento espírita não haverá necessidade de existir um "movimento espiritualista". Tamanha será a convicção da comunidade científica e a obviedade dos seus postulados que será desnecessário um movimento para sustentá-lo. Seria como existir um movimento pela "Lei da Gravidade", ou "Pelo Direito a Escola", ou "Pelo Direito das Mulheres Trabalharem". Sua visão otimista é de que a ciência vai acabar provando a sobrevivência da alma, o que vai modificar sobremaneira a visão que temos da vida, da temporalidade e da própria medicina. Sua visão se assemelha ao otimismo de Gene Rodenbery, criador de Jornada nas Estrelas, que vaticinou que o progresso científico levaria à fraternidade e à busca de valores mais nobres. Tecnologia vencendo o egocentrismo recalcitrante. Assim, o próprio movimento planeja seu extermínio, ao sair da periferia das ideias em direção ao centro; saindo da antítese e rumando para a síntese, numa abordagem Hegeliana. O mesmo ocorreria com o movimento de humanização. Com o progredir do conhecimento científico e a falência gradual das posturas mitológicas, com o concomitante desaparecimento dos vaidosos propagadores de verdades privadas, será desnecessário "lutar" por modificações estruturais e práticas que já se estabeleceram no discurso cotidiano. Com isso a "seara luminosa que estamos aos poucos traçando, rumo ao porvir obstétrico redentor" vai significar o nosso desaparecimento enquanto rede e grupo.

E viva o fim da ReHuNa, da Parto do Princípio e de todos os grupos e ONGs que lutam por algo que um dia será tão banal que será desnecessário lutar !!! Nesse dia, lá longe no "porvir obstétrico", a luta dos apaixonados pelo nascimento será outra. E quem pode dizer qual será? Pelo direito aos alienígenas de Alfa centauro de parirem de 6 (não dão a luz de 4 porque tem seis membros articulados)? Ou pelo direito a que a mulher escolha o pai do seu filho por amor, e não a partir de diagramas de compatibilidade genética?
Quem sabe o que virá?

terça-feira, 16 de julho de 2013

DESENCARNAÇÃO DE HERMINIO DE MIRANDA



         Hermínio Corrêa de Miranda (Volta Redonda, 5 de janeiro de 1920 - Rio de Janeiro, 8 de julho de 20131 ) foi um dos principais pesquisadores e escritores espíritas do Brasil. Suas últimas obras foram assinadas como Hermínio C. Miranda.

Formou-se em ciências contábeis, tendo trabalhado na Companhia Siderúrgica Nacional até se aposentar.
Autor de mais de 40 livros, dentre eles, diversos clássicos da literatura espírita, como Diálogo com as sombras, Diversidade dos carismas e Nossos filhos são espíritos.
Tendo se tornado espírita em 1957, sua vasta produção literária inclui ainda obras que tratam do tempo, de regressão de memória, de autismo, de múltiplas personalidades, dos primórdios do cristianismo, todos assuntos que atiçaram sua inesgotável curiosidade.
Na pesquisa psíquica, além de autor de diversas obras foi ainda magnetizador. Dialogando por décadas com espíritos, as suas obras relatam vivências, fatos e fenômenos reais.
Realizou pesquisas sobre reencarnação de personalidades notórias na ciência e na história, como Giordano Bruno e Fénelon, entre outros. Investigou profundamente a mediunidade, a "paranormalidade", deixando como legado um vasto material de estudo que revela, sobretudo, o seu exemplo inspirador para os estudiosos do presente e do futuro.
Nesse leque de habilidades, Herminio acrescenta a de tradutor. Em O mistério de Edwin Drood, de Charles Dickens, a sua tradução valoriza o original.Todavia, a rica construção literária de A história triste, de Patience Worth – cujo enigma investigou –, talvez seja sua mais primorosa tradução.
O seu primeiro livro, Diálogo com as Sombras, foi publicado em 1976. Os seus direitos autorais foram sempre cedidos a instituições filantrópicas.

Desencarnou em 8 de julho de 2013, aos 93 anos. Foi sepultado no cemitério Jardim da Saudade (Sulacap), no Rio de Janeiro.

Matéria extraída da WIKIPÉDIA

sábado, 8 de junho de 2013

SELEÇÃO DE FOTOS DO
III ENCONTRO NACIONA DA CEPABrasil

CLIQUE NESTE LINK E VEJA O RESULTADO
 http://www.youtube.com/watch?v=3rbcQ7dUJ3E

sexta-feira, 31 de maio de 2013

quinta-feira, 2 de maio de 2013

CCEPA NA MÍDIA

“Justiça não é Vingança”

Milton R. Medran Moreira
Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.

Em tempos de discussão sobre a redução da maioridade penal, chamou atenção depoimento com o título acima, publicado na Folha de São Paulo (28/4). Sua autora: a jornalista Luiza Pastor, 56. Ela foi estuprada quando tinha 19 anos por um menor com vasta folha policial que já fora detido várias vezes por fatos semelhantes. Levada por terceiros à delegacia, reconheceu o garoto delinquente, identificado como PS, e conheceu sua história: filho de uma prostituta, era criado pela avó, evangélica,“que tentara salvar-lhe a alma à custa de muitas surras”.  A conversa que ouviu dos policiais foi de que não adiantava mantê-lo preso, coisa que, aliás, não fora pedida por ela. “Esse é dos tais que a gente prende e o juiz solta”, disseram, acrescentando: “O melhor mesmo é deixar ele escapar e mandar logo um tiro”. Não concordando com solução, Luiza foi chamada de covarde e ainda teve de ouvir: “Se está com pena dele, vai ver que gostou!”.

Traumatizada com o fato, Luiza foi embora do país. Retornou depois de muitos anos. Agora, sempre que ouve falar em redução da maioridade penal recorda a história de PS, de quem nunca mais soube. Renova, então, a crença de que se o Estado não investir fortemente em educação dirigida a milhares de jovens em idênticas condições daquele, “teremos criminosos cada vez mais cruéis, formados e pós-graduados nas cadeias e ‘febens’ da vida”.

Se PS ainda vivesse, teria uns 50 anos, hoje. Mas, é quase certo que não vive mais. No Brasil, dificilmente alguém com seu perfil passa dos 30 anos. Morre antes, por doenças contraídas na cadeia, quando não abatido pela polícia ou em disputa com outros delinquentes.

Teórica e tecnicamente, a redução da maioridade penal seria defensável. Um garoto de 15, 16 ou 17 anos, hoje, tem plena capacidade de entender o caráter criminoso de seus atos. Mas, na prática, de nada vai adiantar encarcerá-lo e submetê-lo às péssimas condições de nossos presídios, onde inevitavelmente se fará refém de líderes criminosos que comandam o ambiente prisional e coordenam, além de seus muros, a violência que nos apavora. Sem qualquer possibilidade de aquisição de valores positivos que só o trabalho e a educação, desenvolvidos em ambiente minimante humanizado, poderiam lhe oferecer, esses garotos, que nem lar tiveram, não têm qualquer chance de recuperação. A sociedade e o sistema os fizeram irrecuperáveis. E pena que não recupera é inócua. É vingança que nega a justiça.

Numa concepção imediatista e materialista, a solução de “mandar logo um tiro”, sugerida pelo policial, poderia se justificar. À luz de um humanismo espiritualista, entretanto, estamos todos comprometidos uns com os outros. Criminalidade é doença da alma. E é contagiosa. O egoísmo de alguns, a injustiça social, o orgulho e a arrogância de tantos, a falta de solidariedade, são agentes desencadeadores do crime cujos efeitos atingem “culpados” e “inocentes”. Numa perspectiva imortalista e reencarnacionista, a ausência de políticas pedagógicas e de justiça social, no presente, assim como o exercício da vingança privada ou social, no lugar de uma justiça recuperadora, constituem-se em políticas a repercutirem negativamente nas sociedades do futuro. Adiar significa agravar. E já adiamos demasiadamente.

Artigo publicado no jornal ZERO HORA de Porto Alegre em 02 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

LE JOURNAL SPIRITE
– Remessa por e-mail

Após a postagem a respeito de Le Journal Spirite editado em espanhol, o presidente do CCEPA, Milton Medran Moreira, recebeu pedido de remessa da edição em pdf enviada por um companheiro espírita de Bagé, que se identificou como advogado e também filiado à Loja Maçônica Amizade.
Entretanto, quando pretendia atender o pedido, uma pane em seu computador, terminou por extraviar a mensagem recebida.


Medran está, assim, solicitando àquele internauta, cujo nome não guardou, que volte a se comunicar com ele pelo mesmo e-mail: medran@via-rs.net .

quinta-feira, 25 de abril de 2013

LE JOURNAL SPIRITE

Recebemos de Jacques Peccatte, Diretor do Cercle Espirite Allan Kardec (Nancy-França), em PDF a edição eletrônica em espanhol da revista Le Journal Espirite nº 92 (abril de 2013).
A matéria de capa dessa excelente edição aborda o tema “El impulso divino y el Universo...” com uma série de artigos do maior interesse além da magnífica apresentação gráfica.

Interessados em assinar esta revista em edição gráfica francesa, poderão escrever para: Jean-Claude Thirion – 22, boulevard d’Haussonville – 5400 Nancy – Tel: 03 83 21 5247.

O Presidente do CCEPA, Milton Medran Moreira, poderá repassar a interessados esta  última edição em espanhol.                  
E-mail: medran@via-rs.net

quarta-feira, 24 de abril de 2013

EMOÇÃO E ALEGRIA MARCAM 
77 ANOS DO CCEPA




Abertura do encontro: Alcione, Medran e Dante
Uma singela mas emotiva comemoração marcou a passagem dos 77 anos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.
Fundada em 23 de abril de 1936, a antiga Sociedade Espírita Luz e Caridade, hoje Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, recordou, na noite de 21/4/2013, um pouco de sua trajetória.

Com a presença do presidente da Confederação Espírita Pan-Americana – CEPA - , Dante López (Rafaela/AR), acompanhado de sua esposa Mónica e de Gustavo Molfino, 3º vice-presidente (Rafaela/AR), e de dirigentes, associados e amigos do CCEPA, uma sessão comemorativa marcou a efeméride. Presente também Alcione Moreno, presidenta da CEPABrasil – Associação de Delegados e Amigos da CEPA no Brasil, que compôs a mesa, juntamente com os presidentes do CCEPA e da CEPA.

A sessão foi aberta com a palavra do presidente da instituição, Milton Medran Moreira, que destacou o perfil livre-pensador assumido pelo CCEPA ao curso de uma trajetória marcada por uma histórica inquietação “sempre caracterizadora de homens e mulheres que por aqui passaram”.
Na sequência, Salomão Jacob Benchaya, diretor e ex-presidente do CCEPA, apresentou trabalho projetando na tela dados e imagens que sintetizam um pouco da história da tradicional Casa Espírita da Rua Botafogo, em Porto Alegre.

Seguiu-se a palavra coloquial e serena de Maurice Herbert Jones, o mais antigo colaborador do CCEPA, presidente por várias vezes da Casa e principal condutor das transformações ali ocorridas ao curso desses 77 anos. Jones traçou interessantes paralelos da história do CCEPA e suas ideias com outros movimentos progressistas da humanidade, onde a “desobediência” e a incessante busca de novos paradigmas e horizontes impulsionam as mudanças e o progresso.
Vários visitantes usaram da palavra para saudar a instituição aniversariante: Dante López, presidente da CEPA; Alcione Moreno, presidenta da CEPA Brasil; Mauro de Mesquita Spínola, 2º vice-presidente da CEPA; Homero Ward da Rosa, delegado da CEPA em Pelotas/RS; e José Dorneles Budó, delegado da CEPA em Santa Maria/RS.
Também participou da sessão comemorativa dos 77 anos do CCEPA a delegada da CEPA em São Paulo, Jacira Jacinto da Silva, ex-presidenta da CEPABrasil.

FLAGRANTES DO ENCONTRO
















Reunião de Planejamento da CEPA
Gustavo Molfino e Dante López
No dia seguinte, sábado (20), as dependências do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre sediaram reunião administrativa da Confederação Espírita Pan-Americana, presidida por Dante López e com trabalhos coordenados por Gustavo Molfino.

Delegados da CEPA, colaboradores e dirigentes do CCEPA, em clima de animação e de confraternização, trabalharam durante todo o dia com projetos para os próximos anos da instituição.
Todos deverão estar reunidos novamente, no período de 30 de maio a 2 de junho, em Conde,  nas proximidades de João Pessoa, no III Encontro Nacional da CEPABrasil.            

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

CCEPA NA MÍDIA


Simplesmente, humano.
“É uma pessoa que não tem nada de inquisidora, extremamente afável, gentil, absolutamente tranquila”. (Leonardo Boff, sobre Bento XVI, 2005)

Só o tempo ou, quiçá, nem ele, poderá revelar à História todas as razões que levaram o Papa Bento XVI à renúncia de seu pontificado. Demitir-se de um cargo para o qual foi eleito vitaliciamente e que alça seu titular, no imaginário popular e por força da fé e da tradição, à distinguida condição de “representante de Deus na Terra”, é gesto tão singular quanto surpreendente.
Da instituição por ele dirigida reconhece-se, mundialmente, sua força e poder. Mesmo que a História lhe haja imputado, ao curso dos tempos, a autoria de graves violações aos mais caros valores civilizatórios, seus dirigentes e fiéis chamam-na de “santa”. E, conquanto da lista de seus sumos pontífices, constem nomes a quem se atribuem atos da mais abjeta imoralidade e flagrante injustiça, o titular do cargo, recebe, em qualquer circunstância, o tratamento de “Santidade”.
O adjetivo que antecede a nominação da Igreja Católica Apostólica Romana e o tratamento reverencial reservado a seu sumo pontífice, justificam os teólogos, não se vinculam exatamente ao procedimento institucional e pessoal eventualmente adotado por um por outro, mas da missão sacrossanta de que estariam investidos. Em tese, pois, estariam ungidos da perfeição e das virtudes divinas, mas, na prática, como qualquer pessoa ou instituição, sujeitam-se aos erros pertinentes à humana imperfeição.
Difícil entender essa contradição fora do dualismo sagrado/profano. Por muito tempo, enquanto vigia no mundo a crença na existência de uma “ordem divina” em inconciliável contraste com a “ordem humana”, aquela incorrupta, esta corrompida por força do “pecado original”, havia lugar para esse fatal e insuperável maniqueísmo. Dentro dessa concepção, uma única instituição poderia se arrogar o privilégio da origem divina que a faria ponte entre os céus e a Terra. Mas, composta que é de homens, justificava-se fosse, ao mesmo tempo, santa e pecadora, virtuosa e devassa, sem que, com isso, perdesse  autoridade e credibilidade.
 A modernidade, no entanto, sem que, talvez disso se apercebesse claramente a Igreja, foi, pouco a pouco, superando o maniqueísmo sagrado/profano, divino/humano, substituíndo-o simplesmente pelo natural. O fenômeno universal é regido por leis naturais, que abarcam o físico e o moral, o material e o espiritual. Não é preciso tirar Deus dessa nova concepção de universo. Ele aí está presente como “inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas”, consoante tenta defini-lo O Livro dos Espíritos (1857).  Mas, para esse Deus não há pessoas e nem instituições privilegiadas, acima do bem e do mal. “Criados” todos simples e ignorantes, porque resultantes de um longo processo evolutivo, tornamo-nos capazes de nos reconhecer mutuamente como iguais em direitos e obrigações, sujeitos a erros e acertos e subordinados a uma mesma lei universal. Somos, no plano e no estágio em que nos encontramos, simplesmente, humanos. Como humanas serão todas as instituições que formos capazes de criar.
É nesse contexto que o velho conceito de santidade vai dando lugar ao de humanidade. Descobre-se, pouco a pouco, que toda a virtude, antes tida por revelação divina a alguns intermediários privilegiados, está, de fato, ínsita na própria natureza humana, como fagulha da divindade que a tudo deu origem e que a tudo alcança. Na medida em que essa consciência se faz comum entre homens e mulheres, percebe-se que não há mais lugar para distinções entre uns e outros e nem para outorgas representativas da divindade, com leis que assegurem privilégios sejam esses por crença, sexo, ideologia ou etnia.
Essa mesma consciência de humanidade que a todos nos submete a princípios éticos universais é avassaladora. Pouco a pouco, derruba, em todos os quadrantes, as mais resistentes autocracias e aristocracias. Instituições, grupos raciais, políticos ou religiosos que teimam em preservar seus membros da censura imposta por regras que a civilização e a modernidade tornaram mundialmente cogentes, mais cedo ou mais tarde, terão de se submeter a esse tratamento igualitário de que buscaram se furtar. É o tempo da humanização que está um passo à frente da santificação.
Sem ser exatamente um santo, título que, talvez, até o incomodasse, Joseph Ratzinger entendeu, quem sabe antes de seus pares, que é simplesmente um homem e que humana é, simplesmente, a instituição que dirigiu. Seria esse o móvel de sua renúncia?

Milton Medran Moreira - Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre

Matéria Publicada no Jornal ZERO HORA de Porto Alegre em 28 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA - RS


A TRAGÉDIA E NÓS

                Impossível não sofrer junto!

                 Uma tragédia da dimensão daquela ocorrida em Santa Maria nos atinge a todos.

                Em algum momento, assistindo a cenas tão dramáticas, como aquelas mostradas no último domingo, impossível não experimentarmos parcelas vivas e reais da dor de mães, pais, irmãos ou amigos dos cerca de 250 rapazes e moças, vítimas da maior tragédia já ocorrida no Rio Grande do Sul.

                A dor que sofremos juntos, mesmo despertando indignação diante de imprevisão e do descaso humanos, também faz brotar em cada coração sentimentos de solidariedade e um afeto profundo, verdadeiramente fraterno, para com familiares e pessoas próximas das vítimas. Isso é o que se chama de compaixão: o sofrimento compartilhado que gera cumplicidade, solidariedade. Podemos, sim, ajudar, mesmo à distância, com vibrações de amor, com preces que brotam da alma e chegarão, como bálsamos suavizantes, à alma das vítimas e seus entes queridos.
 
                Talvez seja tudo o que podemos fazer neste momento. E esse tudo é muito. Por favor, ninguém tem o direito de construir teses colocando aqueles jovens como culpados por atos antes praticados. Importa que, aqui e agora, eles são vítimas. Vítimas da imprevidência dos homens e do desprezo que temos pela vida.

                Destino? Mistérios divinos? Definitivamente, não. Erros humanos que todos temos o dever de evitar em favor da vida digna, longa e feliz que sonhamos, planejamos e buscamos para ossos filhos, neste Planeta!

Milton Medran Moreira – Publicado no jornal Diário Gaúcho de 29/01/2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


Em 21 de janeiro, o Governador Tarso Genro assinou decreto criando o Comitê Estadual de Diversidade Religiosa. Uma iniciativa muito legal, formalizada no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
 Você deve saber o que é uma pessoa intolerante. Todo mundo tem alguma na sua família ou relações. São aqueles que se fanatizam por uma ideologia, um partido político, um clube de futebol ou... uma religião!  De todas essas categorias de intolerantes, a pior delas é, justamente, a dos fanáticos religiosos. Eles simplesmente não toleram o convívio com pessoas de crenças diferentes das suas. Ao contrário dos demais intolerantes, eles se julgam detentores da VERDADE - assim mesmo, sempre escrita em maiúsculo. Para eles, aquelas “verdades” extraídas de seus livros sagrados ou dos dogmas de sua fé são a coisa mais importante da vida. Tanto da vida deles como dos outros. Deles, porque a verdade os faz melhores que os outros. Dos demais, porque, afastados da verdade, nunca serão felizes e nem tão bons como eles.
 Perceberam? A intolerância religiosa vem da ideia de que quem não tem a verdade não é bom. Não tem merecimento algum. Nunca terá a ajuda de Deus na Terra e irá para o inferno depois da morte. Por isso, distância das pessoas que não conhecem a verdade! Não se deve conviver com elas, a não ser para convertê-las, para levar-lhes a verdade.
 Por isso, penso que o Estado pode e deve combater e até criminalizar toda e qualquer manifestação de intolerância religiosa. Mas, para acabar mesmo com ela só quando cada um se convencer de que ninguém é detentor da verdade. Estamos todos a buscando. E para chegarmos mais perto dela, são necessários muita humildade e respeito às ideias dos outros.
 
Milton Medran Moreira - Publicado no jornal "Diário Gaúcho" em 29/01/2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

CCEPA NA MÍDIA

UM NOVO AMANHECER

 MILTON R. MEDRAN MOREIRA
Advogado e jornalista, presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre

 Místicos, astrólogos e crentes de velhas teses sobre o fim do mundo previram acontecimentos estranhos para dezembro de 2012. Ocorreriam, segundo apregoavam, com data e hora aprazadas, catástrofes que levariam a radicais mudanças planetárias. Fim dos tempos, para muitos. Início de uma nova era, para outros.

Desde que o mundo é mundo, transformações geológicas e sociais, físicas e culturais, sucedem-se em processos mais ou menos rápidos. Nós, espíritas, chamamos isso simplesmente de evolução. Mudanças, em qualquer circunstância, pedem tempo, exigem correção de rumos e, quando envolvem atitudes humanas, requerem conscientização. "Natura non facit saltus" - a natureza não dá saltos - já diziam os romanos.

Dezembro passou. Despontou janeiro, renovando sonhos que renascem, sempre e sempre, em cada ano novo. E a vida dos humanos seguirá seu rumo. Sem sobressaltos. Mesmo assim, neste canto planetário, esta quadra parece assinalar mudanças que seu povo, de há muito, vem acalantando e preparando. Há uma consciência generalizada a reclamar novos padrões comportamentais nas relações entre governantes e governados, entre os que detêm poderes políticos ou econômicos e aqueles que destes dependem.

O processo judicial do século, que a gente chamou de "mensalão" é, sem dúvida, um forte marco visível dessa ânsia de transformações políticas, sociais e econômicas inspiradas em uma imensa sede de ética, de equidade e justiça.

O povo, em sua simplicidade, acha que tudo se resolverá com o encarceramento, e por muitos anos, de alguns usurpadores do poder político e econômico. Vale considerar, no entanto, que eles apenas repetiram velhas práticas enraizadas em uma cultura que, hoje, dá sinais muito claros de saturação.

Ocorra o que ocorrer com eles, entretanto, e mesmo que, eventualmente, burlem os visíveis mecanismos de justiça, já lhes sobreveio, e lhes continuará sobrevindo, o ama rgo e natural resultado de seus erros. Episódios como estes têm profunda repercussão no íntimo tribunal da consciência de seus agentes. Consciência não se burla e, perante seus precisos indicadores do bem e do mal, do certo e do errado, não sobra qualquer espaço para a impunidade.

Para seus responsáveis e para a nação, ademais, estes acontecimentos históricos hão de ter efeito altamente pedagógico. Nada têm de apocalípticos. Não são, como alguns chegam a interpretar, indícios do final dos tempos. Claramente, contudo, compõem um quadro a caracterizar o fim de um tempo, prenunciando um novo amanhecer.
Artigo publicado no Jornal ZERO HORA de Porto Alegre em 12 de janeiro de 2013 

sábado, 1 de dezembro de 2012

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CECILIA ROCHA DESENCARNA


Retornou ao mundo espiritual, na madrugada no dia 5 de novembro, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Santa Marta, no Distrito Federal, a incansável servidora da causa espírita, especialmente da Evangelização Espírita de Crianças e Jovens, a gaúcha Cecília Rocha , 93 anos de idade.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

CCEPA NA MÍDIA


Mensalão – seu sentido histórico
Com a condenação, já delineada, das figuras mais representativas do chamado “mensalão”, a frase que mais e ouve é: “Quero ver, mesmo, é se esses figurões vão para a cadeia”.
          É como se dissessem:
- Está bem, agora todo o mundo sabe que eles cometeram crimes muito graves, examinados detalhadamente por juízes sábios e justos. Estes mesmos julgadores vão, a seguir, calcular as penas cabíveis para os crimes cometidos. Mas, e daí? Isso de nada valerá, não terá nenhum significado, enquanto não os virmos no fundo de uma cadeia, de preferência dividindo cela com assaltantes, traficantes, estupradores e toda essa classe de gente que se quer ver bem longe de nós! Ah! e tem mais: se as penas aplicadas forem de 15, 20 ou 30 anos, que eles fiquem lá por esse mesmo tempo. Sem essa de, logo, serem beneficiados com livramento condicional, saídas temporárias, prisão aberta ou coisas parecidas.
       Quem lida com o Direito, sabe muito bem que, na prática, as coisas não funcionam assim. Que, talvez, muitas sessões aconteçam, ainda, no Supremo, até que se desempatem votos, se calculem e se fixem as penas, se proclamem resultados, se redijam e publiquem acórdãos. Depois, virão os recursos. Novas sessões. Muitos debates. Longos votos. Posições divergentes a definir, primeiro, se cabem os recursos interpostos pelos tantos advogados. Se o Tribunal deve ou não recebê-los. Após, se for o caso, o exame do mérito de cada recurso. Novas e muitas sessões de debates. Nesse meio tempo, talvez um, dois ou três ministros se aposentem. Serão suscitadas questões de ordem sobre quem pode e quem não pode votar. Sobrevirão recessos. Interrupções. Novas sessões. Decisões divergentes. Outros recursos. Redação de novos acórdãos. Publicações. Depois de tudo, quem sabe, a prescrição das penas. O falecimento de alguns. O esquecimento. A impunidade.
       Num exercício de raciocínio que à maioria, hoje, pode se afigurar como absurdo, suponhamos que nenhum réu condenado vá para a cadeia. Que o tempo jogue a favor deles. Que o sentimento da gente simples do povo que os quer ver no fundo do cárcere seja frustrado. E, então, será de se perguntar: Terá valido a pena tanto esforço? Terá sido tempo perdido?
      Certamente que terá valido a pena. As decisões já tomadas pelo STF têm um sentido histórico e simbólico que vai muito além da literalidade da lei. Esta define o crime e lhe prescreve penas. Esgota-se no que se chama de trânsito em julgado das decisões condenatórias ou absolutórias. A fase da execução das penas se desdobrará em novos incidentes, recursos, postulações e decisões. Alguns até poderão fugir do país, frustrando a execução. Mesmo assim, nem eles nem o Brasil serão os mesmos daqui para frente. Terão eles, em qualquer circunstância, fora ou dentro da cadeia ou do país, aprendido que, perante a história e a nação, foram irremediavelmente condenados. Teremos nós compreendido que o tempo joga sempre a favor do bem e da justiça. Que sociedades justas e felizes se constroem também por leis que podem ser burladas, mas, especial e fundamentalmente, pelo amadurecimento da consciência ética de seus cidadãos e governantes.
        E, por falar em consciência, esta, quando culpada, dói do mesmo jeito na cadeia ou no palácio. E dói sem tempo predeterminado de duração e sem se sujeitar a prazos de prescrição. Dói enquanto não der lugar à reabilitação, à transformação ética e ao ressarcimento. Porque justiça não é vingança. É instrumento pedagógico de equilíbrio e de transformação do indivíduo e da sociedade. É a arte de dar a cada um o que é seu.
        Em qualquer circunstância, tenho o nítido sentimento de que o Brasil sai radicalmente transformado desse episódio. Independente do que vier a ocorrer com os réus do “mensalão”, com este processo, estamos exorcizando o passado e pavimentando o futuro desta nação com valores éticos há muito presentes no espírito da lei, mas, talvez ainda obscurecidos ou ausentes de nossa consciência coletiva.
      
       Milton Medran Moreira
         Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.
       Artigo publicado no Jornal ZERO HORA de 23 de outubro de 2012