segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ESTAMOS SOZINHOS NO UNIVERSO?

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A Igreja Católica começa a rever a histórica oposição à hipótese da pluralidade dos mundos habitados. Seminário sobre astrobiologia no Vaticano abre caminho para a aceitação da tese defendida pelo espiritismo desde seu nascimento.

Um evento histórico na Santa Sé
Um seminário sobre astrobiologia promovido em novembro pela Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano, acaba de abrir caminho para a aceitação pela Igreja de um princípio historicamente combatido pelo catolicismo: o da pluralidade dos mundos habitados.

Segundo a Rádio do Vaticano, a Santa Sé levantou a questão da possibilidade de vida inteligente extraterrestre, em seminário sobre astrobiologia encerrado em 10 novembro. Um dos participantes expressou a convicção de que essa descoberta estava relativamente próxima. O Padre Chris Impey, astrônomo da Universidade do Arizona, disse que "em alguns anos, serão encontradas formas de vida no universo, seja no sistema solar ou fora dele". Também destacou que "progressos incríveis foram feitos na pesquisa sobre os planetas". E lembrou: “Foi apenas em 1995 que encontramos o primeiro planeta fora do sistema solar e agora conhecemos mais de 400”.

Já em 2008, o jesuíta José Gabriel Funes, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano surpreendeu a todos os que acompanham a história da Igreja e, principalmente, a outras igrejas cristãs mais conservadoras, quando, em entrevista a “L'Osservatore Romano”, admitiu a existência de “outros seres inteligentes, criados por Deus, fora da Terra”. Sustentou, na ocasião: “Isso não contradiz nossa fé porque não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus".

Na ocasião, a Igreja Ortodoxa Russa, através do teólogo Alexei Osipov, catedrático da Academia Espiritual de Moscou, expressou que sua igreja descarta a existência de civilizações extraterrestres inteligentes e que a declaração de Funes contrariava frontalmente o Antigo e o Novo Testamento.

Hipóteses não descartam a existência de vida no sistema solar

Embora realizado por um órgão ligado à estrutura do Vaticano, o seminário contou com a participação de estudiosos da matéria não vinculados à Santa Sé, como a doutora Athena Cosutenis, astrônoma do observatório de Paris. Ela se referiu aos diversos elementos compatíveis com a vida espalhados no universo. Recordou que, sob a superfície da lua Europa, no sistema de Júpiter, pode haver grande quantidade de água em estado líquido. Neste oceano, poderiam existir diversas formas de vida. A astrônoma indicou que há dois satélites que despertam particular interesse dos astrobiólogos. Encontram-se no sistema de Saturno e são Titã e Encelado. Titã apresenta características similares às da Terra e Encelado parece oferecer condições aptas para a vida, segundo a professora Cosutenis.
Milton Medran Moreira - Extraido do Jornal Opinião

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

FÉ EM TEMPO DE GLOBALIZAÇÃO

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“Parecemos tão livres e estamos tão encadeados...” (Robert Browning)
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A liberdade de crença é uma das grandes conquistas da modernidade. Por longos mil anos, estivemos, no âmbito da cristandade, condenados a professar um único sistema de fé. Naquele 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses questionando alguns dogmas e práticas da Igreja de Roma. Seria o marco inicial da Reforma Protestante, graças à qual a cristandade do século 16 e seguintes se libertaria do jugo da crença única.Desde então, têm-se multiplicado por todo o mundo as igrejas cristãs. Algo positivo. Mesmo preservados alguns dogmas fundamentais com os quais todas elas comungam, abriu-se o leque do pluralismo religioso, estimulando-se, teoricamente, a liberdade de pensamento. Mas, por históricas distorções sedimentadas na cristandade, fé, poder e dinheiro têm sido fatores difíceis de se dissociarem. Mesmo que, ao curso de toda a história das igrejas, espíritos de escol, fiéis à autêntica mensagem de Jesus de Nazaré, hajam combatido aquela espúria associação, o certo é que a proliferação das igrejas, notadamente nos últimos 50 anos, tem se orientado justamente por essa fórmula. É ela a própria garantia de seu êxito.As bases a sustentar o modelo desse cristianismo de nosso século partem dos seguintes pressupostos: a fé é inquestionável, pois se funda na própria palavra de Deus; o poder emana diretamente da autoridade divina, a serviço da qual cada uma dessas igrejas afirma estar; o dinheiro empregado na “obra de Deus” retornará ao doador, multiplicado em bens de consumo, saúde, prosperidade e venturas no amor, benesses só concedidas aos crentes. Estes, por acréscimo, ainda obterão a salvação eterna.O marketing empregado se afina com a economia de mercado, adotada por uma sociedade ainda movida por políticas excludentes, em que uns poucos são agraciados pelos bens da vida e muitos outros condenados à marginalidade. Enquanto esse modelo perdurar, as igrejas cultivadoras da teologia da prosperidade seguirão crescendo, à custa de vítimas incautas ou de espíritos atrasados, presos às malhas do egoísmo e da ignorância. A grande motivação para a adesão a esse sistema de fé é o apelo que se faz a um sonhado “upgrade” social e econômico.Poderão se inscrever essas práticas nos modernos postulados da liberdade de crença? Com certeza não. Tampouco isso estaria nos planos do irrequieto monge que afixou suas teses na porta daquela igreja, há 492 anos. Trata-se, antes, de um verdadeiro estelionato da fé, astuciosamente engendrado, no seio da sociedade moderna e de suas garantias de liberdade de pensamento e crença. O modelo defrauda tanto os magnânimos projetos dos reformadores religiosos quanto os dos humanistas, livres-pensadores e laicos, que, no nascer da modernidade, ousaram contestar coisas como vendas de indulgências, autoritarismo e corrupção religiosa.
Milton Medran Moreira
Artigo publicado no jornal ZERO HORA de 24.10.2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MEDRAN LANÇA NOVO LIVRO DE CRÔNICAS

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Na tarde de 13 de setembro, durante um almoço confraternativo na sede do CCEPA, foi feito um lançamento preliminar, para os amigos presentes, do último livro de crônicas do ex-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana, jornalista e Diretor do Departamento de Comunicação Social do CCEPA Milton R. Medran Moreira.

O autor reproduz em sua nova obra 100 crônicas publicadas em diversos órgãos de imprensa na primeira década dos anos 2000, tendo como temática dominante a realidade do espírito e suas consequências filosófico-morais.
O livro “O Espírito de um Novo Tempo ou um Novo Tempo para o Espírito” (Editora Imprensa Livre) já está disponível na livraria do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Rua Botafogo 678.

No dia 7 de novembro, às 14 horas, será feito o lançamento oficial com sessão de autógrafos na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre.
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Nos flagrantes, o momento em que o companheiro Maurice Jones apresentava aos presentes o autor e a sua obra e a sessão de autógrafos.














O ANO DA FRANÇA NO BRASIL: O LEGADO DE ALLAN KARDEC

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David Castilhos, Historiador.
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A metade do século XIX é marcada por estranhos fenômenos. Em clubes, cabarés e lares de Paris, pessoas se reúnem em torno de mesas que se movem. O apelido pega: tables tournantes.
Diversos cientistas se interessam pelas tais mesas, entre eles Faraday e que, em 1853, publica um artigo sobre suas observações.
No entanto, o que ocorre durante este período acaba por afastar a maioria dos homens de ciência, inicialmente curiosos. Através de um sistema de comunicação chamado tiptologia (certa quantidade de batidas representavam determinados tipos, letras), as tables começam a “falar”. E elas disseram que não se movimentavam sozinhas. Sofriam impulsos das almas de pessoas que já haviam morrido.
Afastaram-se os cientistas profissionais, principalmente, tudo leva a crer, por tratar-se de elementos sob domínio da superstição e da religião: vida após a morte, manifestação de espíritos, etc.
Mais de mil anos de controle exercido pelos dogmas religiosos foram o suficiente para que o bom senso recusasse qualquer indício de retorno à superstição.
A Razão optou por abster-se das pesquisas. Era arriscado. Além do mais, existiam (como ainda existe) um universo de mistérios da matéria a serem desvendados pela ciência. O sobrenatural podia esperar.
Em 1855, os fenômenos já haviam se modificado. De tables tournantes, o lápis era o instrumento que deslizava, ora em cestas de vime e pranchetas, ora nas mãos de pessoas tidas como intermediárias dos Espíritos, isto é, médiuns.
É neste contexto que surge um lionês que morava em Paris, o pedagogo e estudioso do Magnetismo Animal, Hipollyte Leon Denizard Rivail. Não era médium, mas observador dos fenômenos.
Recolhendo textos obtidos pela escríta atípica, elaborando hipóteses, organizando as experiências e abrindo questionamentos, Hipollyte dá nome à ciência por ele criada. Visto que seu objeto era o Espírito, chamou-a Espiritismo.
Obviamente, o mundo acadêmico a rejeitou.
Ao publicar seu primeiro livro de Espiritismo, Hipollyte usou um pseudônimo: Allan Kardec.
Em todas as enciclopédias é este pseudônimo que remete à definição fundador do Espiritismo, ou Doutrina Espírita.
Allan Kardec nunca esteve no Brasil, no entanto suas obras aqui chegaram rapidamente, devido à intensa relação cultural de nossa nação com a França.
Políticos, médicos, advogados, militares, artistas… eram muitos os ofícios daqueles que se dedicavam ao Espiritismo deste lado do Atlântico.
Com o tempo, no Brasil, a nascida ciência torna-se mais uma religião entre tantas de nosso solo marcado pelo misticismo. Este processo daria uma boa pesquisa. Mas, por ora, nos importa perguntar: o que Allan Kardec e sua doutrina têm de especial que, além das massas sedentas por novidades religiosas, agradou pessoas mais cultas no final do século XIX e início do século XX?.
O espiritismo tem relações com o saint-simonismo e sua busca pelo positivo. Por mais estranho que isso, hoje, nos possa parecer, Allan Kardec procurou uma análise racional de um fato que julgava como certo, real, positivo: a comunicação das almas dos mortos com os vivos.
Usou de método, ansiava por objetividade, buscava a elaboração de leis. Fez uma tentativa de retorno ao espiritual sem superstição.
Outro ponto que sugere o porquê de Allan Kardec ter caído no gosto de muitos brasileiros é o seu pensamento, ou melhor, o pensamento que resulta das suas observações, coleta de dados e, obviamente, suas reflexões.
O Espiritismo propunha o progresso da alma e, consequentemente, o progresso social.
Entendia que a reencarnação era mais lógica que uma única vida.
Defendia uma busca por progresso moral que permitiria reencarnações menos difíceis no futuro.
Além disso, os escritos mediúnicos diziam não haver céu ou inferno. A felicidade ou infelicidade, a paz de consciência ou o remorso seriam estados psicológicos metaforicamente chamados de céu ou inferno. Cada um seria o responsável por construir estes estados em si mesmo.
Se estes, entre outros pontos, agradaram a alguns, desagradaram a muitos.
Se os cientistas profissionais desdenharam Allan Kardec. Os religiosos tradicionais viram suas idéias como aberrações que intentavam retirar o poder das Igrejas como tradicionais intermediárias das “coisas de Deus”. Suas obras acabaram no Index.
Seu nome e sua doutrina são citados no Brasil até hoje (mesmo que em expressões populares). Ao tentar retirar da superstição fenômenos extraordinários, criou uma doutrina sofisticada e interessante que, independente das possíveis crenças religiosas que adotemos, merece ser conhecida.
Uma vez por mês, em Porto Alegre, na Usina do Gasômetro, as obras de Allan Kardec são apresentadas à comunidade. No ano da França no Brasil, é oportuno programa para quem desejar conhecer o pensamento deste notável francês.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

UM PINTOR CEGO. DÁ PARA EXPLICAR?

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Os gênios também divergem. Discípulos dissentem de seus mestres. Foi o que aconteceu entre Platão e Aristóteles e suas respectivas teorias do conhecimento. Platão defendia a tese das ideias inatas. Para ele, a alma, e só ela, era detentora do conhecimento. Seu mais famoso discípulo discordou. Aristóteles cunhou a frase que aprendi nos velhos tempos de latim: “Nihil est in intelelectu quod non prius fuerit in sensu” (nada está no intelecto que não tenha primeiro passado pelos sentidos). Ou seja: é pela visão, pelo tato, pelos sentidos corporais, enfim, que adquirimos o conhecimento. Sem experienciar, nada aprendemos. Diferente de seu mestre para quem “aprender é recordar”, ou seja, é acessar o imenso universo das ideias que deixamos lá fora da caverna, onde estamos acorrentados e permaneceremos enquanto nossa alma não se libertar do corpo.Estou recorrendo aos dois gênios da Grécia Antiga para tentar desvendar um mistério de nossos dias. Na Turquia, não muito distante, pois, da pátria onde se deu esse embate intelectual, um homem chamado Esref Armagan encanta e confunde o mundo. Encanta porque pinta maravilhosamente bem. Uma pintura leve, cheia de cores, de gramados muito verdes, de casinhas multicoloridas com vasos de flores nas janelas e passarinhos pousando nelas. Confunde porque esse homem nasceu cego. Nunca enxergou. Sua relação com tudo o que o rodeia dá-se preferentemente pelo tato. Para pintar seus quadros toca nas flores, nas plantas, nas pessoas e, depois, reproduze-as com os acréscimos que sua alma de artista é capaz de criar.De sua alma, eu falei? Bem, aí é que a coisa pega. O mundo pós-moderno está muito mais para aristotélico do que platônico. A alma dos filósofos idealistas, que foram tantos e tão ricos e que se derramaram também pela modernidade, já não conta para a ciência dos neurônios e dos bits. Juntos, estes se apresentam como capazes de explicar todas as maravilhas dos homens e das máquinas. A neurociência localiza no cérebro a sede e a causa de cada emoção, de cada gesto e comportamento, do bem e do mal. E nessa ditadura neuronial não sobra lugar para a alma. Esta, antes liberta no vasto mundo das ideias, agora é propriedade exclusiva das religiões. Prisioneira do dogma, foi encerrada no quarto escuro do mistério.Platão não teria dúvida. O pintor que nasceu sem os olhos nem sempre teria sido cego. Sua alma, viajora do tempo, antes de aprisionar-se ao corpo, percebera e retivera as imagens que hoje pinta mesmo sem as ver. Para os neurocientistas, no entanto, há um campo no cérebro onde se formam as imagens captadas pela visão. Quem não enxerga, como Esref, pode suprir isso com os outros sentidos, especialmente o tato, formando, naquela mesma área cerebral, as imagens que consegue reproduzir em tintas com seu pincel.Só não consigo entender como Esref, sem ver, pinta o gramado de verde, as flores com suas cores originais, os telhados vermelhos com a neve branca. Ou melhor, consigo, sim. Para isso, preciso harmonizar as relações Platão/Aristóteles: sim, é a alma que conhece, como disse um. Sim, o conhecimento chega pelas percepções sensoriais, como afirmou outro. A síntese dessas duas afirmativas, à primeira vista antagônicas, se dá pela lei das vidas sucessivas e pelas reminiscências que delas guarda a alma ou espírito. Uma lei em tudo racional, capaz de interpretar o fenômeno Esref. Mas para aceitá-la será preciso enfrentar dois dogmas da pós-modernidade: o de que a alma não existe, e o de que se, vá lá, possa existir, é coisa que deve ser aprisionada no quarto escuro do mistério e da fé.
Milton Medran Moreira
Jornalista, diretor de Comunicação Social do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MENINO ACREDITA SER REENCARNAÇÃO DE PILOTO DA 2ª GUERRA

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Numa família do estado americano da Lousiana, a reencarnação não é uma possibilidade, mas uma certeza.
Os Leiningers acreditam que o filho do casal, James, hoje com 11 anos, é a reencarnação de um piloto de avião de combate que participou da II Guerra Mundial.
De acordo com a família, desde os 2 anos de idade James começou a vivenciar lembranças que seriam do tenente James McCready Houston, que tinha 21 anos na época do conflito. Ele foi abatido em 1945 na batalha de Iwo Jima.
Segundo o menino, que sempre teve um interesse extraordinário por aviões, ele começou a ter flashbacks depois de visitar o Museu de Aviões Kavanaugh, em Dallas, no Texas. Alguns meses depois da visita, James começou a ter pesadelos com a queda de um avião e fogo. E gritava que o piloto não conseguia deixar a aeronave.
Mais tarde, quando o pequeno James tinha apenas dois anos e meio de idade, ele e a mãe foram comprar um brinquedo. Um avião, claro. A mãe, Andrea, pegou um modelo e lhe disse que na parte inferiro havia uma bomba. Para surpresa da mãe, o menino então afirmou que não era uma bomba, mas um pequeno tanque. A família nunca teve militares entre os seus e, até então, nenhuma ligação com aviões.
Os pesadelos passaram, mas não as memórias. Numa outra ocasião, o menino estava com ar distante e a mãe perguntou o que tinha acontecido com o avião dele. James respondeu que tinha sido abatido. Onde, perguntou ela. Na água, respondeu. E ele disse que tinham sido os japoneses. Segundo a mãe, ele não poderia saber nada sobre a ação japonesa na guerra.
O menino seguiu dando indicações sobre uma vida anterior. Quando a mãe serviu bolo de carne, que ele nunca tinha visto ou comido, disse que não comia aquele prato desde Natoma. O menino ainda disse que se chamava James Houston e citou o nome de um colega de tropa.
O pai do garoto, Bruce, começou a pesquisar e descobriu o nome de uma embarcação chamada Natoma Bay, que lutou na batalha de Iwo Jima. Um de seus tripulantes era James Houston. Bruce também descobriu que o avião de Houston foi abatido pelos japoneses em 3 de março de 1945.
Os Leiningers encontraram uma parente e conhecidos de James McCready Houston. E passaram a não ter mais dúvidas de que o menino é a reencarnação do piloto James. Tanto que escreveram o livro “Soul Survivor: The Reincarnation of a World War II Fighter Pilot", algo como "A alma sobrevivente: A reencarnação de um piloto de combate da II Guerra Mundial".
O caso foi tema do programa Goodmorning America, do canal americano de TV ABC.

domingo, 12 de julho de 2009

SE O ESTADO NÃO FOSSE LAICO

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SE O ESTADO NÃO FOSSE LAICO, SERÁ QUE OS CENTROS ESPÍRITAS ESTARIAM ABERTOS?
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Depois de uma exposição sobre problemas sociais que promovemos em um centro espírita, ao final tivemos uma breve parte de interação com o público ali presente, que pode tecer comentários e fazer perguntas. Nessa ocasião uma participação me chamou particular atenção. Foi uma colocação feita por um presidente de centro espírita, que disse o seguinte: “Na sociedade há muitos problemas porque o governo não incentiva as religiões. Infelizmente o Estado é laico.” No que posteriormente respondemos, inicialmente indagando: “Se o Estado não fosse laico, será que os centros espíritas estariam abertos?”
Na condição de espíritas que somos, proclamadores de uma fé raciocinada, já não podemos nos permitir determinados enganos, como o de confundir laicismo com ateísmo, ou achar que ser laico é ser inimigo das religiões.
A condição de Estado laico diz respeito tão somente a uma forma de governo que não possui uma religião como sendo oficial, ou seja, é onde o Estado não toma partido religioso, o que não quer dizer propriamente que esse Estado seja inimigo das crenças religiosas. Como exemplo disso temos o Brasil, que é um Estado laico, mas garante aos cidadãos em sua Constituição a liberdade de crença.
Para continuar refletindo sobre esse assunto, é bom também voltarmos um pouco no tempo e olhar a história das religiões. No Brasil, em um passado ainda bem recente, no século XIX, quando a primeira Constituição brasileira ainda oficializava o catolicismo como a religião do Estado, dificilmente se conseguia registrar a existência de um grupo ou templo de outra denominação religiosa. Para se ter uma ideia, o primeiro núcleo espírita do Brasil, o Grupo Familiar de Espiritismo, fundado em 1865, em Salvador - BA, pelo Sr. Luís Olímpio Teles de Menezes, no ano de 1871 teve seu pedido de registro como sociedade religiosa negado, registrando-se posteriormente como uma sociedade científica, o que especificamente para a doutrina espírit a não foi ruim, uma vez que esta forma de registro foi perfeitamente concordante com a “autêntica” definição de espiritismo estabelecida por Allan Kardec, que o define claramente como sendo uma “ciência e uma filosofia espiritualista de consequências morais”. Mas e os outros grupos? Os protestantes, judeus, mulçumanos, budistas, hinduístas, pessoas adeptas aos cultos indígenas, cultos africanos etc.. Será que nesse período algum grupo assim poderia se registrar como uma entidade religiosa e poderiam eles se expressar abertamente em suas ideias e crenças? Evidentemente que não!
Recuando mais no passado a história traz marcas ainda mais perversas de constrangimento, intolerância e de violência sobre aqueles que se declaravam seguidores de outras religiões, ou mesmo sobre aqueles que não seguiam a nenhuma religião, que é outro direito que foi e continua sendo muitas vezes negado e mal interpretado.
Diante do exposto lançamos as perguntas: se o Estado não fosse laico, será que os centros espíritas estariam abertos? Ou ainda, se o Estado fosse teocrático, ou seja, tivesse uma determinação religiosa outra qualquer, mas permitisse a existência de outras crenças, será que desfrutaríamos da mesma liberdade que temos hoje, de abrir as portas das casas espíritas para o público, de se declarar espírita, de registrar instituições, de promover eventos, de divulgar espiritismo através das diferentes mídias? Eu particularmente acredito que não!
Se o Estado fosse teocrático muitas coisas seriam tolhidas, não só no universo religioso, mas também no campo da filosofia, das ciências e das artes. E não me venham dizer que um Estado teocrático seria capaz de tolher somente as coisas ruins, pois o passado e o presente deixam claro essa incapacidade. Geralmente o pensamento teocrático é caracterizado por considerar quase tudo que existe ruim, escapando pouca coisa a esse julgamento. Logo, muitas coisas efetivamente boas e essenciais para o progresso da humanidade deixariam de existir.
Portanto, não nos iludamos, colocando em dúvida aquilo que a duras penas já foi conquistado. Para não ficarmos sujeitos a cair em terrível retrocesso.

Por Luiz Antônio de Sá


Professor de filosofia, fundador e coordenador da
LEPPLE - Liga de Estudos Progressivos e Práticas à Luz do Espiritismo e
delegado da CEPA - Confederação Espírita Pan-Americana.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

HUMANOS, SOMENTE HUMANOS

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“O homem é a única criatura que se recusa a ser o que ela é”. Albert Camus
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O enorme contingente de criaturas que, em todo o mundo, se dedica com amor a atividades de promoção do ser humano nos convida a fazer uma reflexão sobre nosso papel e, sobretudo, sobre a inspiração e os motivos que nos levam a trabalhar e a sofrer por ideais de natureza filosófica, política ou religiosa buscando, consciente ou inconscientemente, aperfeiçoar o que nos parece imperfeito, participando assim da construção de um mundo que possa ser mais amado.
Por que fazemos o que fazemos? Por que ao invés de somente viver e sobreviver, aceitando obedientemente o cenário e o texto que nos é oferecido, resolvemos desobedecer e sonhar e plantar jardins, construir tambores, flautas e harpas, escrever poemas, construir casas, teatros, universidades, cidades?
Isto faz de nós, realmente, criaturas singulares no concerto da natureza que conhecemos. Diferentemente dos animais, perfeitamente ajustados ao mundo físico, os homens parecem ser, constitucionalmente, desadaptados ao mundo tal como ele lhes é dado.

O psicanalista e escritor Rubem Alves, que nos inspira nesta reflexão, diz que uma das respostas a este tipo de indagação é que o homem, antes de ser racional, é um ser de desejo. Desejo é sintoma de privação, de ausência e pertence aos seres que se sentem insatisfeitos com o que o espaço e o tempo presente lhes oferecem. Eles sabem que o mundo é uma construção e, portanto, perfectível. Sofremos de uma “nostalgia do futuro”, uma espécie de saudade de um tempo que há de vir que começa no momento mágico, naquele ponto de mutação em que, com o despertar da razão, foi firmado o contrato de parceria com a Inteligência Suprema que inaugurou a história humana.

Esta é a glória e, ao mesmo tempo, a maldição da condição humana. Na busca deste mundo mais perfeito que os homens desejam, imaginam e, a pouco e pouco, constroem, empenhamos as mais nobres das nossas qualificações morais e intelectuais, mas como contrapartida, temos que enfrentar a maldição da neurose e o terror da angústia, inexistentes no paraíso da natureza infra-humana. A harmonia original, pré-individualista, é substituída pelo conflito e pela luta, recursos pedagógicos utilizados para desenvolver nossa capacidade de pensar e de amar. A Inteligência Suprema, de certa forma presente no recôndito das estruturas mais sutis da nossa individualidade, não bloqueia e sim estimula, permanentemente, a parceria humana, mesmo quando incipiente e desastrada.
Somos o que somos porque para isto fomos inteligentemente programados. Viver, viver mais, viver melhor é a legenda que sintetiza todas as motivações humanas.
Fazemos o que fazemos porque somos humanos, somente humanos.

Maurice Herbert Jones

domingo, 10 de maio de 2009

EVOLUCIONISMO– o fio que liga Darwin e Kardec

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Comemora-se em 2009 o “Ano de Darwin”, pela confluência de duas importantes efemérides: o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e o sesquicentenário de sua histórica obra “A Origem das Espécies”.
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Kardec e Darwin, contemporâneos
Charles Darwin, o naturalista inglês que revolucionou a ciência com sua obra “A Origem das Espécies” (1859) e o professor Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec, que lançou, em Paris, “O Livro dos Espíritos” (1857) foram, como se vê, contemporâneos.
Não há nenhuma referência histórica de que tenham se conhecido. Darwin, na Inglaterra, era filho de um médico anglicano, muito religioso, que o preparava para a carreira eclesiástica. Contrariando-o, depois de algum tempo estudando para ser clérigo, ainda muito jovem, Charles dedicou-se à pesquisa científica que o faria famoso ao lançar sua tese sobre a evolução das espécies pela seleção natural. Kardec, na França, pertencente a uma família de magistrados, tornou-se educador em Paris. Passaria à história como fundador do espiritismo, uma ciência de consequências filosófico-morais, por ele definida como tendo por objetivo o estudo da “natureza, origem e destino do espírito e de suas relações com o mundo material”.
Charles Darwin sustentou que o homem e o macaco originam-se de uma mesma espécie que os antecedeu. Allan Kardec apregoou que o espírito nasce simples e ignorante e evolui em conhecimento e moralidade, através das vidas sucessivas. Com essas proposições, o naturalista inglês e o pedagogo francês desafiaram importantes dogmas do cristianismo e, cada um em sua área de pensamento, adotaram ambos o princípio comum do evolucionismo – biológico e espiritual -, incompatível com o criacionismo bíblico.
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A plena identidade entre espiritismo e evolucionismo

Lançado dois anos antes de A Origem das Espécies, em 18 de abril de 1857, O Livro dos Espíritos já expunha claramente alguns conceitos evolucionistas. Sustentando que todos os espíritos são criados “simples e ignorantes”, a obra sistematizada por Kardec compara-os, na sua origem a “crianças ignorantes e sem experiência, só adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam ao percorrerem as diferentes fases da vida” (q.115).
Uma frase dos espíritos entrevistados por Kardec, na questão 540, expressa magistralmente a síntese evolucionista da filosofia espírita: “Tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também já foi átomo”.
O presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Promotor de Justiça Rui Paulo Nazário de Oliveira, coordenador de um grupo de estudos que elegeu como assunto para o primeiro trimestre de 2009 “O Espiritismo e a Teoria Evolucionista de Darwin”, salienta que Kardec chegou ao evolucionismo adotando, inicialmente, a teoria da geração espontânea, ainda em voga em seu tempo, mas que “depois aderiu inteiramente ao evolucionismo proposto por Darwin em A Origem das Espécies”. Sustenta Rui Nazário que “hoje se pode afirmar que há plena identidade entre a evolução darwiniana e os postulados da filosofia espírita”.
É no último de seus livros, “A Gênese” (1868), ano anterior à sua morte, que Kardec se detém mais sobre o tema, expondo princípios claramente evolucionistas: “Por pouco que se observe a escala dos seres vivos do ponto de vista do organismo – escreveu - é-se forçado a reconhecer que desde o líquen até a árvore e desde o zoófito até o homem, há uma cadeia que se eleva gradativamente, sem solução de continuidade e cujos anéis todos têm um ponto de contato com o anel precedente”. E conclui, mais adiante: “Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra.” (Cap.X – Gênese Orgânica).
Milton Medran Moreira – Jornal Opinião de abril/2009

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A LIBERTAÇÃO DA BORBOLETA

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A doutora Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra de origem suíça, especializou-se em doentes terminais. Assistindo centenas de crianças que estavam morrendo, ela nos diz que devemos aprender a ouvir. Ouvir o que a criança expressa verbalmente. E mesmo aquilo que ela transmite pela linguagem não verbal. Crianças terminais, conta ela, sabem quando vão morrer. E precisam de algum atendimento especial. Atendimento que só o amor incondicional pode dar.
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Falando de sua experiência, narra que conheceu um menino que aos nove anos se encontrava à beira da morte. Portador de câncer, desde os 3 anos de idade, Jeffy nem conseguia mais olhar para as agulhas de injeção. Tudo era doloroso para ele. No hospital, esperava a morte. O médico sugeriu que se iniciasse uma nova quimioterapia. Mas o menino pediu: “quero ir para casa, hoje.” Os pais optaram por lhe satisfazer a vontade.
Quando Jeffy chegou em casa, pediu ao pai que descesse da parede da garagem a sua bicicleta.
Durante muito tempo, seu sonho tinha sido andar de bicicleta. O pai a comprou, mas por causa da doença ele nunca pode andar. A dificuldade era imensa, até mesmo para se manter em pé, então Jeffy pedalou a bicicleta com o amparo das rodinhas auxiliares. Disse que iria dar uma volta no quarteirão e que ninguém o segurasse. Ele desejava fazer aquilo sozinho. A médica que o acompanhava, a mãe e o pai ficaram ali, um segurando o outro. A vontade era de segui-lo. Ele era uma criança muito vulnerável. Poderia cair, se machucar, sangrar. Ele se foi. Uma eternidade depois, ele voltou, o homem mais orgulhoso que se possa ter visto um dia. Sorria de orelha a orelha. Parecia ter ganho a medalha de ouro nas olimpíadas. Sereno, pediu ao pai que retirasse as rodinhas auxiliares e levasse a bicicleta para seu quarto. E quando seu irmão chegasse, era para ele subir para falar com ele. Queria falar com o irmão a sós. Tudo aconteceu como ele pediu. Ao descer, o irmão recusou-se a dizer aos pais o que haviam conversado. Uma semana depois, Jeffy morreu. E, na semana seguinte, era o aniversário do irmão. Foi aí que o menino contou o que tinha acontecido naquele dia. Jeffy dissera a ele que queria ter o prazer de lhe dar pessoalmente sua amada bicicleta. Mas não podia esperar mais duas semanas, até o aniversário dele, porque então já teria morrido. Por isso, a dava agora. Entretanto, havia uma condição: que ele nunca usasse aquelas rodinhas auxiliares, próprias para crianças bem pequenas. Quando os pais souberam de tudo, sentiram muita tristeza. Uma tristeza sem medo, sem culpa, sem lamentar. Eles tinham a agradável lembrança do filho dando a sua volta de bicicleta pelo quarteirão. E mais do que isso: o sorriso feliz no rosto de Jeffy, que foi capaz de conseguir sua grande vitória em algo que a maioria encara como comum.
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Dizemos que uma pessoa é como o casulo de uma borboleta. O casulo é o que ela vê no espelho. É apenas uma morada temporária do ser imortal. Quando esse casulo fica muito danificado, o ser o abandona. É como a borboleta que se liberta do casulo.
Deixar o ser amado partir sereno, só é possível aos corações que amam de forma incondicional e verdadeira.
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Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. O casulo e a borboleta (Jeffy), do livro O túnel e a luz, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. Verus.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

IAN STEVENSON - 1918/2007 - Pioneiro da pesquisa sobre memória extracerebral

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"Se os hereges pudessem ser queimados vivos nos dias de hoje, os cientistas - sucessores dos teólogos, que queimavam qualquer um que negasse a existências das almas no século XVI - hoje queimariam aqueles que afirmam que elas existem".
Ian Stevenson
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Referência obrigatória quando o assunto é reencarnação, a magnífica obra de investigação sobre fenômenos de percepção extra-sensorial realizada pelo Dr. Ian Stevenson deixou profunda impressão, principalmente, entre os estudiosos de espiritismo no Brasil que, a partir da publicação em português de seu mais conhecido livro, passaram a ter mais respeito e interesse pela investigação e documentação dos fenômenos espíritas.
Nascido em 31 de maio de 1918 na cidade de Montreal no Canadá, radicou-se nos Estados Unidos e começou a destacar-se nos meios acadêmicos quando, na direção do Departamento de Medicina Psiquiátrica da Universidade de Virgínia teve, em 1960, sua atenção despertada para o caso de um menino no Sri Lanka que dizia lembrar-se de sua vida passada. A pesquisa deste caso impressionou fortemente o Dr. Stevenson convencendo-o de que a reencarnação era, possivelmente, uma realidade. Na medida em que outros casos foram surgindo ele decidiu centralizar suas pesquisas na exploração deste território fascinante e desconhecido, até então, excluído da observação científica.
A publicação dos seus primeiros artigos sobre o assunto despertou o interesse do inventor das máquinas Xerox, Chester Carlson, que financiou, em 1961, a primeira pesquisa de campo na Índia e no Sri Lanka onde pôde identificar e estudar cerca de 25 casos de lembranças espontâneas de vidas passadas em crianças, adicionando argumentos a sua teoria segundo a qual a reencarnação seria um terceiro fator que, juntamente com as influências hereditárias e ambientais, determinam o desenvolvimento do caráter.
Em 1963 Chester Carlson morre subitamente e deixa, em testamento, um milhão de dólares para a criação de uma cadeira específica na Universidade de Virgínia e mais um milhão para o próprio Dr. Stevenson prosseguir suas pesquisas sobre reencarnação. Este fato tornou possível a criação, por Stevenson, da Divisão de Estudos da Personalidade, único departamento acadêmico no mundo dedicado ao estudo das memórias de vidas passadas, experiências de quase morte e outros fenômenos paranormais. A partir daí, com os recursos a sua disposição, viajou por todo o mundo examinando casos e reunindo elementos para sustentação da sua tese. Em 1962 esteve no Brasil pesquisando sete casos, dois dos quais, identificados no interior do Rio Grande do Sul, fazem parte do livro “20 Casos Sugestivos de Reencarnação” publicado em 1966. O lançamento desta obra no Brasil em 1971 encontrou enorme receptividade no meio espírita, popularizando, entre nós, um autor somente conhecido nos meios acadêmicos. Em 1972 esteve novamente no Brasil a convite do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas dirigido pelo Eng. Hernani Guimarães Andrade (1913/2003) também pesquisador reconhecido no mundo e seu parceiro em muitas pesquisas.
Ian Stevenson publicou centenas de artigos na imprensa especializada e cerca de dez livros abordando, principalmente, temas relacionados à memória extra cerebral. Destaque especial merece a sua obra em dois volumes “Reencarnação e Biologia”, uma contribuição para o estudo da etiologia das marcas e defeitos de nascimento, publicada em 1997.
A desencarnação deste grande homem de ciência em 8 de fevereiro de 2007, somada às perdas do nosso Hernani G. Andrade em 2003 e do professor indiano Hemendras Nat Banerjee da Universidade da Rajasthan - Índia em 1985 deixa um espaço vazio que dificilmente será preenchido em curto prazo. A importância de suas pesquisas para a lenta, mas crescente aceitação da teoria espírita, mesmo nos meios acadêmicos não é ignorada e jamais será esquecida pelos estudiosos de espiritismo no Brasil.

Maurice Herbert Jones

domingo, 3 de maio de 2009

UM FASCINANTE CASO DE REENCARNAÇÃO

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“Quando você era pequena e eu era seu pai, você também fazia bagunça e eu nunca lhe bati!”, foi a surpreendente resposta dada por Ian (3 anos) a sua mãe, quando esta ameaçou bater nele se não parasse de fazer barulho.
Não seria a primeira vez que o menino de Pensacola, na Flórida, afirmaria ser a reencarnação do avô. Numa outra oportunidade, perguntou à mãe qual era o nome do gatinho que ele havia lhe dado quando ela era criança:
- Maniak, respondeu Maria.
- Não, esse era o pretinho, quero saber o nome do outro, o branco – rebateu Ian, fazendo a mãe recordar que eram dois os gatinhos dados a ela pelo pai: Maniak e Boston.
Ampla literatura editada hoje nos Estados Unidos traz impressionantes relatos de lembranças de vidas passadas em crianças. Mas, o caso de Ian tem um componente especial. Seu avô era um policial, morto com um tiro no peito, um ano antes do nascimento do garoto. A lesão atingiu-lhe uma artéria pulmonar. Ian nasceria com uma grave deficiência respiratória na mesma artéria. Precisou fazer seis cirurgias antes de completar quatro anos. Aos cinco, vive sob permanente assistência médica, devido a dificuldades respiratórias congênitas.
Circula na Internet um filme onde Ian conversa com seu pai e diz que não desejava voltar, “mas Deus quis dar-me de presente a vocês”, acrescenta.
Se você quer conhecer mais detalhes desse caso, apontado por muitos como uma evidência da reencarnação, faça o que eu fiz: na Internet, pesquise as palavras “Ian Hagedorn reencarnação”. Veja e tire suas conclusões. Reencarnação não é assunto de fé. É lei da vida, hoje aceita por muita gente. Amanhã, com certeza, será chave a decifrar enigmas envoltos no mistério religioso e no preconceito científico.
Milton Medran Moreira
Crônica publicada no jornal Diário Gaucho de 05/05/2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

BUSCANDO NOVOS CAMINHOS

*ENCONTRO COM JACI REGIS E MARCELO HENRIQUE
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Conforme havia sido combinado, na tarde de 25 de abril, sábado, reunimos na nossa sede social os associados mais responsáveis pelas diversas atividades da casa para receber os companheiros Jaci Regis na condição de Presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos e Marcelo Henrique, Presidente da ADE-SC, ambos portadores de propostas que, independentemente de seu mérito, atestam a postura dinâmica do segmento livre-pensador do espiritismo brasileiro.
Na recepção dos convidados e na análise das sugestões apresentadas, juntaram-se a nós os queridos amigos da Sociedade Espírita Casa da Prece de Pelotas: Homero e Regina, Otaviano e Suedy e Dora Helena.
A primeira parte da programação coube a Jaci Regis um dos intelectuais espíritas mais preocupados com a permanente construção do espiritismo nos moldes dinâmicos propostos pelo seu fundador. A apresentação e debate do seu “Modelo Conceitual da Doutrina Kardecista” desenvolveu-se das 14 às 16 horas. A reflexão de Jaci Regis parte de uma análise crítica do modelo vigente no Brasil, excessivamente cristianocêntrico, para propor um modelo mais consentâneo com as exigências do nosso tempo. Nos debates que se seguiram a apresentação não houve nenhuma discordância significativa à proposta. A designação de Kardecismo para este modelo foi, porém, rejeitada unanimemente pelos participantes.
No que se refere ao CCEPA, a proposta será selecionada para reflexão dos grupos de estudo.

Depois de um intervalo no qual, com salgadinhos e um bolo comemoramos o 73º aniversário do CCEPA, retornamos aos debates, desta vez para apreciar a exposição de Marcelo Henrique sobre o novo modelo administrativo adotado recentemente pela Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo-ABRADE. Substituindo a antiga configuração presidencialista o novo formato privilegia a igualdade de importância entre as entidades filiadas, sem qualquer hierarquização entre pessoas ou instituições.
Depois da apresentação o Secretário administrativo da Abrade formalizou um convite ao CCEPA para que participasse desse esforço renovador como entidade filiada.
O convite foi bem recebido pela administração que se comprometeu de providenciar a documentação necessária para a filiação.
Os trabalhos foram encerrados pelo presidente do CCEPA Rui N. de Oliveira.
À noite o encontro foi encerrado com um delicioso churrasco gaúcho.



















segunda-feira, 20 de abril de 2009

MORAL E RAZÃO

“É preciso institucionalizar a solidariedade, isto é, criar uma ética da solidariedade”.
Helio Pelegrino – Psiquiatra


Para Sócrates, o maior dos problemas da filosofia seria o encontro de uma ética natural que tomasse o posto da ética sobrenatural que estava sendo destruída pela filosofia. Se fosse possível construir um sistema de moralidade independente de credos teológicos, estes credos poderiam desaparecer sem prejuízo para o cimento que faz de simples indivíduos cidadãos de uma comunidade¹.
O grande desafio humano, em todas as épocas, tem sido conter em níveis suportáveis as manifestações egoísticas que buscam obstaculizar o processo civilizador construído, penosamente, pela ação altruísta.
Os códigos morais de todas as culturas buscaram na autoridade divina respaldo para a imposição de modelos comportamentais que, controlando os impulsos egocêntricos, tornassem possível a vida comunitária.
Se for verdade que esta pedagogia impositiva e paternalista foi eficiente para nos arrancar da barbárie e construir a civilização que conhecemos, mostra-se crescentemente ineficaz nos dias atuais. O filósofo e pedagogo americano John Dewey declara no seu livro “A Common Fayth” que o homem não tem usado de modo amplo os poderes que lhe são inerentes para melhorar as próprias condições de vida, porque tem esperado muito do auxílio divino e da natureza.
Diante do enfraquecimento da moral de fundamento religioso, já que a determinação divina é cada vez menos respeitada pela humanidade, histórica e mitologicamente desobediente, buscamos ainda agora, uma moral de base racional produto de um conhecimento mais amplo da vida e seu significado. O grande problema da ética como estudo racional da moralidade se resume em saber se é desejável ser bom e, em caso afirmativo, como pode ser o homem persuadido a ser bom.
Seria o Espiritismo uma resposta inteligente e oportuna a estas questões? Vários elementos que estruturam o pensamento espírita sugerem que sim.
É verdade que não existe uma moral Espírita e sim uma postura moral que decorre naturalmente do conhecimento e da aceitação dos fundamentos essenciais do Espiritismo. A idéia da evolução e, sobretudo, o princípio da reencarnação, a ela subordinada, que determina a troca de papéis nas diversas experiências físicas, oferecem substrato racional riquíssimo para a adoção consciente de um modelo comportamental fundamentado na tolerância racial e social, na solidariedade enfim.
A percepção espírita de uma “lei de causa e efeito”, disciplinadora da evolução no plano físico e no plano moral, torna o homem responsável pelos seus atos e, também, arquiteto do seu destino. Esta visão marcadamente humanista foi também compartilhada pelo pai da Psicanálise, Sigmund Freud, a quem se atribui a afirmação de que “o homem realmente esclarecido é espontaneamente moral, sem precisar temer o castigo divino.”
Na visão Espírita a sociabilidade é uma das leis naturais e o problema moral, isto é, o problema de assegurar a dignidade humana sem recorrer a fábulas ou à força seria de todo insolúvel se a moralidade estivesse em completa oposição à natureza.
No início do século XVII o notável Francis Bacon nos oferece uma interessante teoria de moral natural que só pode ser corroborada depois do advento de Charles Darwin que, no cap. IV da “Descendência do Homem,” lançou os alicerces de um código moral em que os credos teológicos eram substituídos pelas demonstrações da biologia. Bacon estava certo; a teoria evolucionista demonstrava que o homem é por natureza social, porque a vida social é anterior à vida do homem e a humanidade já surgiu com a sociabilidade no sangue.
Ao contrário do que dizem os teólogos bíblicos, o homem foi “bem feito.” O humanismo espiritocêntrico proposto pelo Espiritismo, independentemente de razões antropológicas e históricas, nos convida a crer no homem, sobretudo, por ser o homem a melhor e mais perfeita obra de Deus que conhecemos e, portanto, crer no homem é crer em Deus.
O conceito filosófico de imanência como um atributo de Deus sugere que a ação divina se manifesta na intimidade do homem na medida em que os desafios da convivência se tornam imperativos, exigindo soluções inteligentes. Neste processo ele se torna, naturalmente, mais atento, mais sensível à presença divina que convida ao amor.
Como se vê, na medida em que dispusermos de robusta filosofia de vida e o espírito de exame sobrepujar, enfim, o espírito de aceitação, poderemos fazer no campo moral o mesmo tipo de seleção que já aprendemos a fazer no da alimentação. Pela experiência e pelo conhecimento racional das conseqüências em todos os níveis, descobriremos a conveniência humana do bem, criando assim condições para a institucionalização de uma ética natural capaz de substituir as sanções sobrenaturais como sonhava Sócrates.
É interessante notar que estas reflexões, antes de nos afastarem da idéia de Deus, marcam uma significativa mudança na compreensão humana do mesmo que, deixando de ser mero síndico a quem apelamos para solução de conflitos nas nossas relações condominiais, transforma-se no legislador que concebe as grandes leis da convivência para as quais não existe apelação.

¹ - Will Durant - História da Filosofia - Cap. 1

Maurice H. Jones